CTIEJN
Curso
de Teologia da Igreja Evangélica Jesus para as Nações
Nível Básico
Apostila
sobre Angelologia
|
Curso de Teologia da Igreja Evangélica Jesus para as
Nações
Nível Básico
Apostila de Angelologia
Organizadores:
Diretor Pr. José Iracet
Profª Dra. Adriana Röhrig
|
|
Sumário
Introdução à Angelologia ................................................................................................
04
UNIDADE
1 Os anjos: origem e história ......................................................... 05
UNIDADE 2 A BÍBLIA E A NATUREZA DOS ANJOS ................................................. 09
UNIDADE
3 ANJOS: HIERARQUIA E CLASSIFICAÇÃO...............................................
17
UNIDADE
4 SATANOLOGIA E DEMONOLOGIA ..........................................................
21
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................
36
|
|
Introdução à Angelologia
Ao
redor de nós existe um mundo invisível, um mundo espiritual poderoso, populoso
e de recursos superiores ao que é palpável. Espíritos bons e maus passam em
nosso meio, de um lugar para o outro, com grande rapidez e movimentos
imperceptíveis. Alguns desses espíritos se interessam pelo nosso bem, outros,
porém, estão empenhados em fazer-nos o mal. Muitas pessoas questionam se
existem realmente tais espíritos ou seres, quem são, onde se encontram e o que
fazem.
A
palavra de Deus é a única fonte de informação que merece confiança, e que
possui respostas para estas perguntas. Ela deixa claro que há outra classe de
seres superiores ao homem. Esses seres habitam nos céus e formam os exércitos
celestiais, a inumerável companhia dos servos invisíveis de Deus. Esses são os
anjos de Deus, os quais estão sujeitos ao governo de Deus, e o importante papel
que têm desempenhado na história da humanidade torna importante um estudo
especial sobre eles. Existem também aqueles, que pertencem a mesma classe de
seres e anteriormente eram servos de Deus mas que agora se encontram em atitude
de rebelião.
O
termo teológico apropriado para esse estudo que estamos iniciando é Angelologia
(do grego angelos, “anjo” e logia, “estudo”, “dissertação”). Angelologia se
constitui, portanto, de doutrina específica dentro do contexto daquilo que
denominados de Teologia Sistemática, a qual se ocupa em estudar a existência,
as características, natureza moral e atividades dos anjos. Quando consideramos os anjos, como nas outras
doutrinas, existe campo para o uso da razão. Considerando que Deus é Espírito
(Jo 4.24), que não participa de maneira nenhuma dos elementos materiais, é
natural presumir que existem seres criados que se assemelham mais com Deus do
que com as criaturas terrestres, que combinam o elemento material com o
imaterial. Há um reino material, um reino animal e um reino humano; assim,
podemos presumir que há um reino angélico ou espiritual. Contudo, a Angelologia
não repousa sobre a razão ou a suposição, mas sobre a “Revelação”.
|
Unidade 1
Os
anjos : origem e história
Histórias
seculares, histórias religiosas e a arqueologia mostram que quase todas as
culturas do mundo aceitam a existência de seres sobrenaturais. Muitas
sociedades não faziam nenhuma distinção entre seres bons e maus. Os egípcios
antigos acreditavam que seres sobrenaturais controlavam todas as fases da vida.
O mesmo acontecia na Pérsia, Babilônia e Índia. Apesar de ser uma cultura
inteiramente voltada para a filosofia e ideias humanísticas, os gregos antigos
acreditavam em espíritos, e a adoração dos mesmos fazia parte de sua vida
diária.
Os
romanos absorveram grande parte de outras religiões em sua própria, isto é,
eles faziam isso quando as outras religiões eram politeístas. Eles simplesmente
acrescentavam deuses ao seu panteão. Geddes MacGregor escreveu no seu livro
(Anjos, Ministros da Graça): “...da Escandinávia ao Irã, da Irlanda à América
do Sul, o folclore popular é repleto de alusões a espíritos tão
elementares...que foram trazidos do folclore antigo dos celtas, escandinavos,
teutônicos e outras culturas”. Mesmo nas culturas mais orientais, como da
China, Japão e Coréia, anjos e/ou demônios eram parte integrante de suas
religiões, embora muitas vezes esses seres fossem chamados deuses. No extremo
oriente, os espíritos eram considerados como seres humanos mortos resultando na
adoração de ancestrais e mesmo na adoração direta a anjos ou demônios.
Certo
teólogo, de nome Alexander Hislop, fez um trabalho monumental no final do século
XVIII ao traçar conexões entre todas as religiões antigas. Ele comparou a
crença e adoração de seres sobrenaturais de nação em nação e de religião em
religião. Seu relatório dá maior evidência ao fato de que algo aconteceu em
algum lugar nos tempos antigos
envolvendo o relacionamento entre os reinos natural e sobrenatural. O que quer
que tenha sido, ainda influencia muitas pessoas em nossos dias.
1 - Os Anjos no decurso
da história
Nas
tradições pagãs (algumas das quais influenciaram os judeus de tempos
posteriores), os anjos eram, às vezes, considerados divinos, e outras vezes,
fenômenos naturais. Eram seres que faziam boas ações em favor das pessoas, ou
eram as próprias pessoas que praticavam o bem; tal confusão está refletida no
fato de que tanto a palavra hebraica “mal'ãkh”, quanto a grega “angelos” têm
dois sentidos. O significado básico de cada uma delas é “mensageiro”. Mas este
mensageiro, (dependendo do contexto) pode ser um mensageiro humano comum, ou um
mensageiro celestial, um anjo.
Alguns,
com base na teoria da evolução, fazem a ideia de anjos remontar ao início da
civilização. “O conceito de anjos pode ter evoluído dos tempos pré-históricos
quando, então, os seres humanos primitivos emergiram das cavernas e começaram a
erguer os olhos aos céus... A voz de Deus já não era a rosnada da floresta, mas
o estrondo do céu”. Segundo essa teoria, desenvolveu-se um conceito de anjos
que servissem à humanidade como mediadores de Deus. O conhecimento genuíno dos
anjos, no entanto, veio somente através da Revelação Divina.
2- Na visão da mitologia
Posteriormente,
os assírios e os gregos deram asas a alguns desses seres semidivinos. Hermes
tinha asas nos calcanhares. Eros, “o espírito voador do amor apaixonado”, tinha
asas afixadas aos ombros. Num tom bastante divertido, os romanos inventaram
Cupido, “o deus do amor erótico”, retratado como um garoto brincalhão que
atirava flechas invisíveis para encorajar romances. Platão (cerca de 427- 347
a.C.) também falava de “anjos da guarda”.
As Escrituras Hebraicas
atribuem nomes a somente dois anjos: Gabriel, que iluminou o entendimento de
Daniel (Dn 9.21-27), e o arcanjo Miguel, o protetor de Israel (Dn 12.1).
O
livro apócrifo de Tobias (200-250 a.C.), porém, inventou um arcanjo chamado
Rafael que, repetidas vezes, ajudou Tobias em situações difíceis. Realmente, só
existe um arcanjo (anjo principal), que é Miguel (Jd 9). Mais tarde, Filo (20
a.C. à 42 d.C.), o filósofo judaico de Alexandria, no Egito, retratou os anjos
como mediadores entre Deus e a raça humana. Os anjos, criaturas subordinadas,
habitavam nos ares como “os servos dos poderes de Deus. Eram almas incorpóreas
sendo totalmente inteligentes em tudo e possuindo pensamentos puros”.
3 - Primeiros séculos do
cristianismo
Durante
o período do Novo Testamento, os fariseus acreditavam que os anjos fossem seres
sobrenaturais que, frequentemente, comunicavam a vontade de Deus (At 23.8). Os
saduceus, todavia, influenciados pela filosofia grega, diziam: “não há
ressurreição, nem anjo, nem espírito” (At 23.8). Para eles, os anjos não
passavam de “bons pensamentos e intenções” do coração humano.
Nos
primeiros séculos depois de Cristo, os pais da igreja pouco disseram a respeito
dos anjos. A maior parte de sua atenção era dedicada a outros assuntos
referente à natureza de Cristo. Mesmo assim, todos eles acreditavam na
existência dos anjos.
4
- Pintados e cultuados
Mais descritivos foram
os retratos pintados pelos renascentistas; representavam os anjos como “figuras
varonis ... crianças tocando harpas e trombetas, bem diferentes de Miguel, o
arcanjo. Retratos pintados com péssimo gosto como “cupidinhos gorduchinhos”,
com muito colesterol, vestidos com pouca
roupa, estrategicamente colocados, essas criaturas eram frequentemente usadas
como friso artístico. O cristianismo medieval assimilou a massa de
especulações, e, como consequência, começou a incluir a adoração aos anjos em
suas liturgias, essa aberração continuou crescendo, levando o Papa Clemente X
(1670 - 1676 d.C.) a decretar uma festa em homenagem aos anjos.
5
- Calvino e Lutero
A despeito dos excessos
católicos romanos, o Cristianismo Reformado continuou a ensinar que os anjos
ajudam o povo de Deus. João Calvino (1509 - 1564 d.C.) acreditava que “os anjos
são despenseiros e administradores da beneficência de Deus para conosco...
Mantêm a vigília, visando a nossa segurança; tomam a seu encargo a nossa
defesa; dirigem os nossos caminhos, e zelam para que nenhum mal nos
aconteça”. Martinho Lutero (1483 - 1546
d.C.) em “Conversas à Mesa”, falou em termos semelhantes. Observou como esses
seres espirituais, criados por Deus, servem à Igreja e ao Reino. Eles ficam muito
perto de Deus e do cristão. “Estão em pé diante da face do Pai, perto do sol,
mas sem esforço vêm rapidamente socorrer- nos”.
6
- Pós-reforma
Na
Era do Racionalismo (cerca de 1800 d.C.), surgiram graves dúvidas contra a
existência do sobrenatural; os ensinamentos historicamente aceitos pela Igreja
começaram a ser reexaminados. Como consequência, alguns céticos resolveram
chamar os anjos “personificações de energias divinas, ou princípios bons e
maus, ou doenças e influências naturais”.
Já
em 1918, alguns eruditos judaicos começaram a ecoar a voz liberal, afirmando
que os anjos não eram reais, pois desnecessários. “Um mundo de leis e de
processos não precisa de uma escada viva
para levar-nos da Terra até Deus, nas alturas”. Isso não abalou a fé dos
evangélicos conservadores que continuam a confirmar a validade dos anjos.
7 - O Consenso do
cenário moderno
Foi
talvez o teólogo liberal Paul Tillich (1886 - 1965) quem postulou o conceito
mais radical do período moderno. Considerava os anjos essências platônicas:
emanações da parte de Deus. Acreditava que os anjos queriam voltar à essência
divina da qual surgiram para serem iguais a Deus. Tillich aconselhava: “Para
interpretar o conceito dos anjos de modo relevante, hoje, interprete-os como as
essências platônicas, como os poderes da existência, e não como seres
especiais. Se você interpretá-los desta última maneira, tudo não passará de
grosseira mitologia”.Karl Barth (1886 - 1968) e Miliard Erickson (1932),
entretanto, encorajavam uma abordagem mais cautelosa e sadia. Barth, o pai da
neo-ortodoxia, achava ser o assunto “o mais notável e difícil de todos”.
Reconhecia o enigma do intérprete: Como “avançar sem ser precipitado”; estar
“ao mesmo tempo aberto e cauteloso, crítico e ingênuo, perspicaz e
modesto?” Erickson, teólogo conservador, acrescentou que
poderíamos ser tentados a omitir, ou negligenciar, o estudo dos anjos, porém
“se é para sermos estudiosos fiéis da Bíblia, não temos outra escolha senão falar
a respeito deles”.
8 - A origem dos
anjos
A
época de sua criação não é indicada com precisão em parte alguma, mas é
provável que tenha se dado juntamente com a criação dos céus (Gn 1.1). Pode ser
que tenham sido criados por Deus imediatamente após a criação dos céus e antes
da criação da terra, pois de acordo com Jó 38.4-7, rejubilavam todos os filhos
de Deus quando Ele lançava os fundamentos da terra. Que os anjos não existem
desde a eternidade é mostrado pelos versículos que falam de sua criação (Ne
9.6, Sl 148.2,5; Cl 1.16). Embora não seja citado número definido na Bíblia,
acredita-se que a quantidade de anjos é muito grande (Dn 7.10; Mt 26.53; Hb
12.22).
9 - O propósito da
criação
Os
anjos não existem desde a eternidade. Isto por um lado é mostrado pelos
versículos que falam de sua criação, Ne 9.6: “Tu fizeste o céu, o céu dos céus,
e todo o seu exército” Sl 148.2,5: “Louvai-o todos os seus anjos; louvai-o
todas as suas legiões celestes... louvem o nome do Senhor, pois mandou ele, e
foram criados”. Por outro lado está subentendido na declaração de 1Tm 6.16,
onde afirma que Deus é “o único que possui imortalidade”.
Os
anjos foram criados para darem glória, honra e ações de graça a Deus; para
adorarem a Cristo (Hb 1.6); para cumprirem os propósitos de Deus: proteção de
Israel (Dn 12.1), luta contra Satanás (Jd 9; Ap 12.7), anunciar a vinda de
Cristo (1Ts 4.16), guardarem o trono de Deus (Ez 10.1-4), se preocuparem com a
adoração a Deus perante o Seu Santo Trono (Is 6.2-7), assistirem a Deus em sua
obra Soberana (Cl 1.16; 2.10; Ef 1.21; 3.10).
10 - Existem anjos bons
e anjos maus
Na
criação original dos anjos, não houve essa classificação entre bons e maus. A
Bíblia declara que os anjos foram criados no mesmo nível de justiça, bondade e
santidade (2Pe 2.4; Jd 6). O que define entre bons e maus é o fato de que foram
criados como seres morais com livre-arbítrio, e daí, a liberdade de escolha
consciente entre o bem e o mal. A queda de Lúcifer deve-se a esta condição
moral dos anjos (Is 14.12-16; Ez 28.12-19). A Bíblia fala acerca dos anjos que
pecaram contra o Criador e não guardaram a sua dignidade (2Pe 2.4; Jd 6; Jó
4.18-21). Aos anjos que não pecaram e não seguiram a Lúcifer, Deus os exaltou e
os confirmou em sua posição celestial e para sempre estarão na sua presença,
contemplando e executando a vontade do Criador. São chamados de “anjos eleitos”
(1Tm 5.21) e evidentemente receberam graça suficiente para habilitá-los a
manter sua posição de perseverança, pela qual foram confirmados em sua condição
e agora são incapazes de pecar. São chamados também de “santos anjos” (2Co
11.14). Sempre contemplam a face Deus (Lc 9.26), e tem vida imortal (Lc 20.36).
Sua atividade mais elevada é a adoração a Deus (Ne 9.6; Fp 2.9-11; Hb 1.6; Jó
38.7; Is 6.3; Sl 103.20; 148.2 Ap 5.11).
11 - Etimologia e
conceito do termo
A
palavra portuguesa anjo possui origem no latim angelus, que por sua vez deriva-
se do grego angelos. No idioma hebraico, temos mal'ãk. Seu significado básico é
“mensageiro” (para designar a ideia de ofício de mensageiro). O grego clássico
emprega o termo angelos para o mensageiro, o embaixador em assuntos humanos,
que fala e age no lugar daquele que o enviou.
No
Antigo Testamento, onde o termo mal'ãk ocorre 108 vezes, os anjos aparecem como
seres celestiais, membros da corte de Yahweh, que servem e louvam a Ele (Ne
9.6; Jó 1.6), são espíritos ministradores (1Rs 19.5), transmitem a vontade de
Deus (Dn 8.16,17)), obedecem a vontade de
Deus (Sl 103.20), executam os propósitos de Deus (Nm 22.22), e celebram
os louvores de Deus (Jó 38.7; Sl 148.2).
No
Novo Testamento, onde a palavra angelos aparece por 175 vezes, os anjos
aparecem como representativos do mundo celestial e mensageiros de Deus. Funções
semelhantes às do Antigo Testamento são atribuídas a eles, tais como: servem e
louvam a Cristo (Fp 2.9-11; Hb 1.6), são espíritos ministradores (Lc 16.22; At
12.7-11; Hb 1.7,14), transmitem a vontade de Cristo (Mt 2.13,20; At 8.26),
obedecem a vontade dEle (Mt 6.10), executam os Seus propósitos (Mt 13.39-42), e
celebram os louvores de Cristo (Lc 2.13,14). Ali, os anjos estão vinculados a
eventos especiais, tais como: a concepção de Cristo (Mt 1.20,21), Seu
nascimento (Lc 2.10-12), Sua ressurreição (Mt 28.5,7) e Sua ascensão e Segunda
Vinda (At 1.11).
Unidade 2
A
BÍBLIA E A NATUREZA DOS ANJOS
Muito
se tem escrito no mundo secular e religioso acerca dos anjos, explorando a
credulidade de pessoas espiritualmente carentes e supersticiosas, induzindo-as
à conceituações erradas e falsas sobre o mundo espiritual. O que nos interessa
aqui é aclarar a verdade e a realidade do assunto segundo a revelação feita
pela Bíblia Sagrada. Não poucas passagens das Escrituras ensinam que há uma
ordem de seres celestiais totalmente distintos da humanidade e da Divindade,
que ocupam uma posição exaltada acima da atual posição do homem caído. Estes
seres celestiais são mencionados pelo menos 108 vezes no Antigo Testamento e
165 vezes no Novo Testamento, e a partir deste conjunto de Escrituras o
estudante pode criar a sua “doutrina dos Anjos”.
A
existência dos anjos é claramente demonstrada pelo ensino, tanto do Antigo,
quanto do Novo Testamento. São inúmeros os textos do Antigo Testamento que
comprovam a realidade da existência dos anjos. Queremos, no entanto, destacar
apenas os que se seguem: Gn 32.1,2; Jz 6.11ss; 1Rs 19.5; Ne 9.6; Jó 1.6; 2.1;
Sl 68.17; 91.11; 104.4; Is 6.2,3; Dn 8.15-17; Nos textos alistados
anteriormente, vemos os anjos em suas funções principais de servir e louvar a
Yahweh, transmitir as mensagens de Deus, obedecer A Sua vontade, executar a
vontade de Deus, e também como guerreiros. No contexto do Novo Testamento, os
anjos não são apresentados simplesmente
como “mensageiros de Deus”, mas também como “ministros aos herdeiros da
salvação” (Hb 1.14). Outrossim, a existência dos anjos é apresentada de maneira
inequívoca no Novo Testamento. Vejamos, por exemplo, os textos a seguir: Mt
13.39; 13.41; 18.10; 26.53; Mc 8.38; Lc 22.43; Jo 1.51; Ef 1.21; Cl 1.16; 2Ts
1.7; Hb 1.13,14; 12.22; 1Pe 3.22; 2Pe 2.11; Jd 9; Ap 12.7; 22.8,9.
A
Bíblia fala da manifestação dos anjos na obra da criação do mundo físico (Jó
38.6,7). Eles estavam presentes quando Moisés recebeu de Deus as tábuas da Lei
(Hb 2.2); no nascimento de Jesus (Lc 2.13); quando foram servir ao Senhor Jesus
no deserto da tentação (Mt 4.11); na ressurreição de Cristo (Mt 28.2; Lc
24.4,5); na ascensão de Cristo (At 1.10). Outras manifestações podem ser
listadas neste ponto em toda a Bíblia. Sua manifestação é incorpórea; eles são
seres espirituais e morais, porque acima de tudo, são pessoas. A realidade dos
anjos se comprova mediante os atributos de personalidade que eles demonstram
falando, pensando, sentindo e decidindo. Muitas das suas manifestações são
feitas através de formas materiais inexistentes. Entretanto, os demônios, que
são anjos caídos da graça de Deus, incorporam em corpos de pessoas vivas ou de
animais, e por essas possessões materiais, se manifestam. Os anjos de Deus não
tomam outros corpos para se manifestarem, mas tomam formas de pessoas humanas
visíveis para se fazerem manifestos.
1 - O número de Anjos
Várias
passagens das Escrituras indicam que há um número muito grande de anjos (Dn
7.10; Mt 26.53; Sl 68.17; Lc 2.13; Hb 12.22), e são repetidamente mencionados
como exércitos dos céus ou de Deus. No Getsêmani, Jesus disse a um discípulo
que queria defendê-los dos que vieram prendê-lo: “Acaso pensas que não posso
rogar ao meu pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de
anjos”? (Mt 26.53). Portanto, seu criador e mestre é descrito como “Senhor dos
Exércitos”. Outrossim, a quantidade existente de anjos é única e incontável,
porque desde que foram criados não foram aumentados nem diminuídos. Eles não
procriam e foram criados de uma vez pelo poder da Palavra de Deus. A Bíblia
utiliza expressões variadas para designar “milhares de milhares”, “multidão dos
exércitos celestiais”, “muitos milhares de anjos” (Ap 5.11; Dn 7.10; Dt 33.2;
Hb 12.22; Lc 2.13). É impossível determinar o número de anjos porque é
incontável e é o mesmo número em todos os tempos, desde que foram criados (Sl
148.2-5).
A
alusão ao número dos anjos é um dos superlativos da Bíblia. Eles foram
descritos em multidões “que os homens não podem contar”. Temos razões para
concluir que há tantos seres espirituais em existência quantos seres humanos
vão existir em toda a história da Terra. É significativo que a frase “o
exército do céu” descreve tanto as estrelas materiais quanto os anjos, sendo
que ambos não podem ser contados (Gn 15.5). Vale a citação do Dr. Cooke com a
sua lista de testemunho bíblico sobre o número dos anjos: “Veja o que diz Micaías:
“Vi o Senhor assentado no seu trono, e todo o exército do céu estava junto a
ele, à sua direita e à sua esquerda” (1Rs 22.19). Ouça o que diz Davi: “Os
anjos de Deus são vinte mil, sim milhares de milhares” (SI 68.17). Eliseu viu
um destacamento destes seres celestiais que foram enviados para sua guarda
pessoal, quando “o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de
Eliseu” (2Rs 6.17). Ouça o que Daniel viu: “... milhares de milhares o serviam,
e miríade de miríade estavam diante dele...” (Dn 7.10). Eis o que os pastores
vigilantes viram e ouviram na noite do nascimento do Redentor: “...uma multidão
da milícia celestial louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores
alturas...” (Lc 2.13). Ouça o que diz Jesus: “... acaso pensas que não posso
rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de
anjos?” (Mt 26.53).
Veja
novamente o magnífico espetáculo que João viu e ouviu quando olhou para o mundo
celestial: “Vi, e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres
viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de
milhares, proclamando em grande voz. Digno é o Cordeiro, que foi morto...” (Ap
5.11,12). Se estes números forem entendidos literalmente, eles indicam 202
milhões, mas são apenas uma parte do exército celestial. Contudo, é provável
que estes números não tenham a intenção de indicar qualquer quantidade exata,
mas que a multidão era imensa, além do que costuma usualmente entrar na
computação humana. Por isso lemos, em Hb 12.22, não sobre um número definido ou
limitado, embora grande, mas de “incontáveis hostes de anjos”.
2 - A natureza dos Anjos
Não
são seres humanos glorificados. Em Mateus 22.30 está escrito “que seremos como
anjos”, mas não diz que seremos anjos. No futuro, os crentes hão de julgar os
anjos “Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas
pertencentes a esta vida? (1Co 6.3). Embora havemos de julgar os anjos maus,
isso é diferente de dizer que seremos anjos. As “incontáveis hostes de anjos”
são diferenciadas dos “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.22,23).
Em
Jó lemos que “Rejubilam diante do Todo Poderoso: Quando as estrelas da alva
juntas alegremente cantavam, e todos os filhos (os anjos) de Deus rejubilavam”
(Jó 38.7). Alguns estudiosos da Bíblia insistem em que os anjos não cantam.
Isso, porém, não é verdade! Os anjos possuem a suprema aptidão de oferecer
louvores, e a sua música vem sendo desde tempos imemoriais o veículo primordial
de louvor ao nosso Deus Todo Poderoso, Jó diz que quando Deus lançava os
fundamentos da Terra, os anjos cantavam rejubilando de alegria.
A
música é a linguagem universal. É possível que João tenha visto um imponente
coro celeste (Ap 5.11,12) de muitos milhões de anjos que expressavam seu louvor
ao Cordeiro celeste através de magnífica música. Não é debalde que o Salmista
exorta (SI 148-2): “Louvai-o todos os seus anjos...” Isto é real! De acordo com
Lc 2.13, multidões de anjos apareceram na noite do nascimento de Cristo,
clamando de alegria em vista do início da nova criação, como tinham feito no
princípio da primitiva criação (Hb 1.6). 3.19.
2.1 São seres
espirituais
Os
anjos são descritos espíritos, porque diferentes dos homens, eles não estão
limitados às condições naturais e físicas. Aparecem e desaparecem, e
movimentam-se com uma rapidez imperceptível sem usar meios naturais. Apesar de
serem espíritos, têm o poder de assumir a forma de corpos humanos a fim de
tornar visível sua presença aos sentidos do homem (Gn 19.1-3).
2.2 São espíritos
invisíveis
Os
anjos são reais, mas nem sempre visíveis (Hb 12.22). Embora Deus ocasionalmente
lhes conceda a visibilidade (Gn 19.1-22), são espíritos invisíveis (Sl 104.4;
Hb 1.7,14).Vejamos o Sl 104.4: “Fazes a teus anjos ventos”, citado em Hb 1.7.
Observe também Hb 1.14; “Não são todos eles espíritos ministradores enviados
para serviços, a favor dos que hão de herdar a salvação”?
2.3 Possuem corpos
espirituais
Com
muita frequência o problema é confundido pela imposição aos seres espirituais
daquelas limitações que pertencem à humanidade. Para os santos no céu foi
prometido um “corpo espiritual” (1Co 15.44). Há muitos tipos de corpos até
mesmo na Terra, o Apóstolo declara (1Co 15.39,40) e prossegue dizendo que
também há corpos celestiais e corpos terrestres. Não podemos dizer que não há
corpos celestiais apenas porque o homem não tem poder de discernir esses corpos.
Os espíritos têm uma forma definida de organização que está adaptada à lei de
sua existência. Eles são finitos e espaciais. Tudo isto é verdade embora eles
estejam muito afastados desta economia do mundo. Eles têm a capacidade de se
aproximar da esfera da vida humana, mas o fato de maneira nenhuma lhes impõe a
conformidade com a existência humana. O aparecimento de anjos pode ser, quando
a ocasião exige, com a aparência de homens, de modo que eles se passam por
homens. Como poderíamos explicar de outra maneira que alguns “... sem o saber
acolheram anjos...” (Hb 13.2)? Por outro lado, seu aparecimento às vezes é
deslumbrante e glorioso (Mt 28.2-4). Quando Cristo declarou: “...um espírito
não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho...” (Lc 24.37-39), Ele não
quis dizer que um espírito não tem corpo algum, mas, antes, que os espíritos
têm corpos constitucionalmente diferentes dos corpos dos homens.
2.4 São exércitos e não
raça
As
Escrituras ensinam que o casamento não é da ordem ou do plano de Deus para os
anjos: “Porque na ressurreição nem casam, nem se dão em casamento; são, porém,
como os anjos do céu” (Mt 22.30; Mc 12.25). Portanto, não se caracteriza uma
raça. No Velho Testamento os anjos são chamados de “filhos de Deus” (Jó 1.6;
2.1; 38.7), mas nunca lemos a respeito dos “filhos dos anjos”. Os anjos sempre
são descritos como varões, porém na realidade não tem sexo, não propagam sua
espécie (Lc 20.34-35).
As
Escrituras em parte alguma ensinam que os anjos sejam seres sexuados. No
fundamento genuíno criador de Deus, não foi deixada margem alguma para se
acreditar na reprodução de seres da escala espiritual. Sobre este assunto,
apenas nos foi revelado as leis que regem os seres naturais ou materiais. Não
conhecemos nenhum texto Sagrado explícito ou sequer subjetivo que nos conduza
ao pensamento de que os anjos podem se reproduzir, ou possuam sexo. Seus nomes
masculinos, não se refere em nenhum momento à uma ordem de sexualidade humana
(macho e fêmea).
Acreditamos
sim que os anjos não se reproduzem, pois a obra criadora de Deus revelada em
Sua Palavra, se fez desse modo, e qualquer indagação ou afirmação contrária é
mera especulação e apostasia da veracidade bíblica.
2. 5 São seres racionais,
morais e imortais
Aos
anjos são atribuídas características pessoais; são inteligentes dotados de
vontade e atividade. O fato de que são seres inteligentes parece inferir-se
imediatamente do fato de que são espíritos (2Sm 14.20; Mt 24.36, Ef 3.10; 1Pe
1.12; 2Pe 2.11). Embora não sejam oniscientes, são superiores aos homens em
conhecimento (Mt 24.36) e por ter natureza moral estão sob obrigação moral; são
recompensados pela obediência e punidos pela desobediência.
A
Bíblia fala dos anjos que permanecerem leais como “santos anjos” (Mt 25.31; Mc
8.38; Lc 9.26; At 10.22; Ap 14.10) e retrata os que caíram como mentirosos e
pecadores (Jo 8.44; 1Jo 3.8-10).
A
imortalidade dos anjos está ligada ao sentido de que os anjos bons não estão
sujeitos à morte (Lc 20.35-36), além de serem dotados de poder formando o
exército de Deus, uma hoste de heróis poderosos, sempre prontos para fazer o
que o Senhor mandar (Sl 103.20; Cl 1.16; Ef 1.21; 3.10; Hb 1.14) enquanto que
os anjos maus formam o exército de Satanás empenhado em destruir a obra do
Senhor (Lc 11.21; 2Ts 2.9; 1 Pe 5.8).
Ilustrações
do poder de um anjo são encontradas na libertação dos apóstolos da prisão (At
5.19; 12.7) e no rolar da pedra de mais de 4 toneladas que fechou o túmulo de
Cristo (Mt 28.2).
2.6 Os Anjos não são
oniscientes
Apesar
da Bíblia dizer que os anjos são mais inteligentes que Daniel, eles não são
oniscientes. Eles não sabem tudo. Não são iguais a Deus em sabedoria. Jesus,
particularmente, deu testemunho da limitação do conhecimento dos anjos, quando
falou que eles ignoravam o dia da vinda do Filho do Homem (Mt 24.36). Os anjos, sem dúvida, sabem coisas a nosso
respeito que desconhecemos. Devido ao fato de serem espíritos auxiliadores,
usarão estes conhecimentos para o nosso bem e nunca para maus propósitos.
2.7 São seres
inteligentes
Embora
seu serviço e dignidade possam variar, não há nenhuma implicação na Bíblia de
que alguns anjos são mais inteligentes que outros. Cada aspecto da
personalidade dos anjos foi declarado. Eles são seres individuais e, embora
espíritos, experimentam emoções.
a)
Os anjos prestam culto inteligente (Sl 148.2);
b) os anjos contemplam com o devido respeito à face do pai (Mt
18.10); c) os anjos conhecem suas
limitações (Mt 24.36); d) os anjos reconhecem
sua inferioridade para com Jesus (Hb 1.4-14).
E,
no caso dos anjos caídos, eles conhecem a sua capacidade de fazer o mal. Os
anjos são individuais, mas, embora às vezes apareçam, em uma condição separada,
estão sujeitos a classificações e a variadas categorias de importância.
Pela
sublime tarefa que os anjos desempenham no tempo e no espaço, desde o princípio
e por aquilo que a respeito deles a Bíblia diz, a conclusão a que se chega é
que os anjos excedem em muito em conhecimento e em sabedoria os mais brilhantes
homens que a história humana já teve.
Sem
dúvida, os anjos foram criados espíritos inteligentes, cujo conhecimento teve
início em sua origem, continuando a se ampliar até os nossos dias. As
oportunidades de observação que os anjos têm, e as muitas experiências que,
nesse sentido, conforme podemos supor, devem ter tido, juntamente com as
revelações diretas da parte de Deus, devem ter-se adicionado grandemente ao
acúmulo de sua inteligência original.
2.8 Os Anjos são
poderosos
O
que se aplica a todas as criaturas em relação ao poder que têm, também se
aplica aos anjos: Seu poder deriva de Deus. O seu poder, embora seja grande, é
restrito. Eles não onipotentes, não podem fazer aquelas coisas que são
peculiares à Divindade: criar, agir sem os meios, ou sondar o coração do homem.
Eles podem influenciar a mente humana como uma criatura pode influenciar outra.
O conhecimento desta verdade é de grande importância, Até mesmo um anjo pode
reivindicar ajuda divina quando em conflito com outro anjo (Jd v.9).
O
poder angelical é superior, mas não supremo. Deus simplesmente lhes empresta o
seu poder, pois eles são os seus agentes especiais. Os anjos, portanto, são
“maiores em força e poder” do que nós (2 Pe 2.11), Como “magníficos em poder,
que cumpris as suas ordens,” (SI 103.20) “anjos poderosos” mediarão os juízos
finais de Deus contra o pecado (2Ts 1.7).
Os anjos também não são onipresentes. Embora possam viajar em velocidade
vertiginosa, eles não podem estar em mais de um lugar ao mesmo tempo.
2.9 Inferiores a
Cristo
“Ainda
que por um pouco de tempo, Jesus fora feito um pouco menor do que os anjos, por
causa da paixão e morte” (Sl 8.5; Hb 2.9). Quanto à pessoa de nosso Senhor
Jesus Cristo, os anjos são inferiores a Ele em dois pontos:
a) Os anjos são “criaturas” de Deus, ainda
que chamados “filhos de Deus”, contudo, não têm em si a condição original
peculiar ao Senhor Jesus. O escritor aos Hebreus salienta: “... feito Jesus
tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que
eles...” (Hb 1.4).
b) Os Anjos são adoradores. Em razão da
adoração, os anjos são inferiores a Cristo; eles são adoradores, enquanto que
Cristo é adorado! Isto é depreendido nas próprias palavras do Criador: “... e
todos os anjos de Deus o adorem” (Hb 1.6b). Este direito inerente ao Filho de
Deus o coloca acima deles.
As
Escrituras dizem que os anjos são seres superiores em força e poder aos homens:
contudo, jamais em hipótese alguma, eles
aceitam adoração; em lugar de os anjos serem objeto de adoração, eles são
súditos que adoram Jesus Cristo. O apóstolo Paulo advertiu: “Ninguém vos domine
a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos...” (CI 2.18a). E
no Apocalipse (19.10; 22.9) João é advertido pelo próprio ser angelical:
“...Olha não faças tal, porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, dos
profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus”.
Portanto,
os anjos não são objetos de adoração
como João chegou a supor momentaneamente. E no contexto do significado do
pensamento diz Paulo: “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem
os anjos nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está
em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 8.38,39). Ora, isto apresenta Cristo como
sendo Senhor dos próprios anjos. E de fato, Ele foi feito mais excelente do que
os anjos (Hb 1.4). Os anjos foram criados; Cristo é Criador: Como Criador Jesus
é superior aos anjos, pois maior do que a criatura é aquele que a criou (Is
45.9). Anjos são súditos; Cristo é o Senhor.
2.11 Os Anjos tomam
decisões
A
desobediência de um grupo deles subentende sua capacidade de escolha, e de influenciar
outros com a sua iniquidade (1Tm 4.1). Por outro lado, quando o bom anjo
recusou a adoração de João (Ap 22.8,9), fica subentendida sua capacidade de
escolha, e de influenciar outros com o bem. Embora os anjos bons respondam com
obediência ao mandamento de Deus, não são autômatos. Pelo contrário: optam com
intenso ardor a obediência dedicada.
2.12 Os Anjos possuem
habitação
A
habitação dos anjos também é um assunto revelado definidamente. Já falamos da
insinuação de que todo o Universo encontra-se habitado por inumeráveis
exércitos de seres espirituais. Esta vasta ordem de seres com todas as suas
classificações tem habitações e centros fixos para as suas atividades. Com o
uso da frase “os anjos no céu” (Mc 13.32), Cristo definidamente afirma que os
anjos habitam as esferas celestiais.
O
apóstolo Paulo escreve: “um anjo vindo do céu” (Gl 1.8) e “...toda família,
tanto no céu como sobre a terra...” (Ef 3.15). Igualmente, na oração que Cristo
ensinou aos Seus discípulos, eles foram instruídos a dizer: “... faça-se a Tua
vontade, assim na Terra como no céu...” (Mt 6.10). O Dr. A. C. Gaebelein
escreve sobre a habitação dos anjos, dizendo: “No hebraico, céu está no plural
‘os céus’.
A
Bíblia fala de três céus, sendo o terceiro céu, o céu dos céus, o lugar da
habitação de Deus, onde o Seu trono sempre esteve. O tabernáculo do Seu povo
terreno, Israel, era um modelo dos céus. Moisés, quando esteve na montanha,
olhou para a vastidão dos céus e viu os três céus. Ele não tinha telescópio.
Mas o próprio Deus lhe mostrou os mistérios dos céus. Então Deus o advertiu
quando estava para construir o tabernáculo, dizendo ao Seu servo: 'Vê que faças
todas as coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado no monte' (Hb 8.5).
O
tabernáculo tinha três compartimentos: o pátio externo, o lugar Santo e o Santo
dos Santos. Uma vez por ano o sumo sacerdote entrava neste local terreno de
adoração, passando pelo pátio externo para o lugar Santo e finalmente, levando
o sangue do sacrifício, ele entrava no Santo dos Santos para aspergir o sangue
na presença santa de Jeová. Mas Arão era apenas um tipo daquele que é maior que
Arão, o verdadeiro Sumo Sacerdote. Dele, do verdadeiro Sacerdote, o nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo, foi escrito que Ele penetrou os céus (Hb 4.14):
'Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro,
porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus' (Hb 9.24).
Ele passou pelos céus, o pátio exterior, o céu que circunda a Terra; o lugar
Santo, o Universo imenso com sua distância imensurável e, finalmente, Ele
entrou no terceiro céu, o céu que a astronomia sabe que existe, mas que nenhum
telescópio pode alcançar.
Nos
lugares celestiais, de acordo com a Epístola aos Efésios, estão os principados
e potestades, a multidão incontável de anjos. Sua habitação está nos céus. Deus
que os criou, que os fez espíritos e os revestiu de corpos apropriados para a
sua natureza espiritual, também deve lhes ter designado habitação... Também é
significativo que a frase ‘exército dos céus’ signifique tanto as estrelas como
os exércitos angelicais; o ‘Senhor dos Exércitos também tem o mesmo significado
duplo, pois Ele é o Senhor das estrelas e o Senhor dos anjos’”.
2.13 Sua aparência
Nas
histórias que se têm colecionado, há anjos com asas e outros sem asas, anjos
que se parecem com anjos e outros que se parecem com seres humanos. Parece que
os anjos que aparecem como homens, e não como anjos, vão ter a aparência de
quem estão visitando. Em outras palavras, se o anjo que apareceu à mãe de
Sansão não se parecesse com um israelita, ela não teria chamado filho de Deus,
como sendo ele um profeta israelita (Jz 13.6). Se os anjos que aparecem sem que
se saiba que são anjos (Hb 13.2), então aparecem aos chineses como chineses,
aos africanos como africanos, e a americanos como americanos. Isso significa
que há anjos aparecendo como negros e brancos.
2.14 Suas asas
A
Bíblia não nos diz que anjos possuem asas. Esta ideia de asas vem de um verso
em Daniel onde está registrado que um anjo veio voando rapidamente (Dn 9.21).
Entretanto, como os anjos não se movem no tempo e no espaço como nós, não
sabemos se precisam de asas para voar. Outras ordens de seres celestiais
chamadas querubins, serafins são descritas como possuindo asas (Ez 1.5-11; 1Rs
6.27). Na arte medieval, muitos anjos são desenhados com asas, mas vieram da
ideia da deusa grega Nike.
Portanto,
acredita-se que muitos anjos não possuem asas. Eles são “espíritos puros”, não
compostos de matéria, mas compostos de essência e existência, de ação e de
potencialidade, escreveu Tomás de Aquino. Em religiões não cristãs, a ideia de
como são os anjos varia, particularmente com as personalidades angelicais
específicas, uma vez que são percebidos, ou imaginados por diferentes grupos.
Não estamos sempre atentos à sua presença porque os anjos nem sempre fazem
aparições visíveis.
2.15 Os Anjos são
incomparáveis entre as criaturas de Deus
O
respeito aos anjos era profundo no judaísmo, a ponto de ver um anjo ser
considerado como experiência tão grande, quanto ver o próprio Deus (Gn 16.13;
31.13; Êx 3.4; Jz 6.14; 13.22). Algum desses casos era Deus manifestando-se de
alguma forma visível. A teologia judaica posterior encarava os anjos como
mediadores entre Deus e os homens (Ez 40.3; Zc 3), e a posição tão elevada
naturalmente fez com que alguns os adorassem.
Os
Anjos “são incomparáveis entre as criaturas, mas nem por isso deixam de ser
criaturas”. Correspondem com adoração e louvor a Deus (Sl 148.2; Is 6.1-3; Lc
2.13-15; Ap 4.6-11) e a Cristo (Hb 1.6). Como consequência, os cristãos não
devem exaltá-los (Ap 22.8-9); os que o fazem, perdem a sua recompensa futura
(Cl 2.18).
Uma
das razões pela qual se originou a carta aos Colossenses, escrita pela o
apóstolo Paulo, foi o culto aos anjos. A cidade de Colossos estava localizada
perto de Laodicéia (Cl 4.16), no sudeste da Ásia Menor, cerca de 160
quilômetros a leste de Éfeso. A igreja colossense, tudo indica, foi fundada
como resultado do grandioso ministério de Paulo em Éfeso, durante três anos (At
20.31), cujos efeitos foram tão poderosos e de tão grande alcance que “todos os
que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus” (At 19.10). Paulo
talvez nunca tenha visitado Colossos pessoalmente (Cl 2.1), mas mantivera
contatos com a igreja através de Epafras, um dos seus convertidos e
cooperadores naquela cidade (Cl 1.7; 4.12). O motivo desta epístola foi o
surgimento de ensinos falsos na igreja colossense, ameaçando o seu futuro
espiritual (Cl 2.8). Quando Epafras, dirigente da igreja colossense e seu
provável fundador viajou com o objetivo de visitar Paulo e informar-lhe a
respeito da situação em Colossos (Cl 1.8; 4.12), Paulo então escreveu esta
epístola. Nessa ocasião Paulo estava preso (Cl 4.3,10,18), possivelmente em
Roma (At 28.16-31), aguardando comparecer perante César (At 25.11,12). O
cooperador de Paulo, Tíquico, entregou pessoalmente a carta em Colossos, em
nome do apóstolo (Cl 4.7).
Paulo
escreveu esta epístola porque os falsos mestres estavam se infiltrando na
igreja de Colossos, ensinando que a doutrina apostólica e a salvação em Cristo
eram insuficientes para a plena redenção. Esse falso ensino misturava a “filosofia”
e a “tradição” humanas com o evangelho (Cl 2.8) e requeria a adoração de anjos
como intermediários entre Deus e o homem (Cl 2.18). Os falsos mestres exigiam a
observância de certos ritos religiosos judaicos (Cl 2.16,21-23) e justificavam
a sua heresia, afirmando que recebiam revelações através de visões (Cl 2.18). A
filosofia subjacente nessas heresias reaparece hoje entre os que ensinam que
Jesus Cristo e o evangelho original do Novo Testamento são inadequados para
satisfazer nossas necessidades espirituais (2Pe 1.3). Paulo refuta essa heresia
ao demonstrar que Cristo não somente é nosso Salvador pessoal, como também
cabeça da igreja e Senhor do universo e da criação. Logo, é Jesus Cristo e o
seu poder em nossa vida, e não a filosofia ou sabedoria humanas, que nos redime
e salva eternamente.
Não
necessitamos de intermediários para termos comunhão com Cristo; devemos nos
acercar dEle diretamente. Ser crente significa crer em Cristo e no seu
evangelho; confiar nEle amá-lo e viver na sua presença. Não devemos acrescentar
coisa alguma ao evangelho, nem ter outro intermediário entre Deus e o homem,
nem aceitar a filosofia humanista.
Nesta
carta Paulo nos adverte a vigiar contra todas as filosofias, religiões e
tradições que destacam a importância do homem à parte de Deus e de sua
revelação escrita. Hoje, uma das maiores ameaças teológicas contra o
cristianismo bíblico é o “humanismo secular”, que se tornou a filosofia de base
e a religião aceita em quase toda educação secular e é o ponto de vista
aprovado na maior parte dos meios de comunicação e diversão no mundo inteiro.
Unidade 3
ANJOS:
HIERARQUIA E CLASSIFICAÇÃO
A
Bíblia fala de anjos bons e anjos maus, mas destaca que todos os anjos foram
originalmente criados bons e santos (Gn 1.31); tendo livre-arbítrio. Numerosos
anjos participaram da rebelião de Satanás contra Deus (Ez 28.12-17; Jd 6; Ap
12.9; Mt 4.10) e abandonaram o seu estado original de graça, como servos de
Deus, e assim perderam o direito à sua posição celestial.
1 - O Anjo do Senhor
Uma
designação especial no Antigo Testamento é “O ANJO DO SENHOR”. Podemos ler 60
ocorrências no Antigo Testamento, onde sua aparição e autoridade o classifica
de forma especial (Gn 16.11; 16.13; 18.2; 18.13-33; 22.11- 18; 24.7; 31.11-13;
32.24-30; Êx.3.2-6; Jz.2.1; 6.11-14; 13.21,22). Sobre a sua identidade existem
aqueles que acreditam que era simplesmente um anjo em missão especial
representando Jeová.
Jesus
tinha um anjo especial a quem chamava de “Meu anjo”, enviado para “testificar
acerca destas coisas” descrito em Ap 22.16. Então Deus também poderia fazer uso
de um anjo para missões especiais ou comissioná-lo para tal.
Em
Mateus o anjo que aparece a Zacarias e Maria é chamado “O Anjo do Senhor’
(Kurios), depois identificado como Gabriel. “Kurios” é a palavra grega
equivalente a Jeová, de acordo com o dicionário expositivo de Vine. Como “Anjo
do Senhor” Gabriel tinha autoridade de agir e falar pelo Senhor.
O
Teólogo Hicks observa que as Escrituras ocasionalmente atribuem as palavras de
um anjo a Deus mesmo quando ele não é um anjo de Jeová. Isso não deveria causar
problemas, porque se um anjo de Jeová é Deus ou o Seu anjo, ainda assim
representa Deus intervindo diretamente na vida dos homens.
Há
vários argumentos que afirmam ser uma teofania da segunda pessoa da Trindade
(Cristofania). Dentre eles alistamos:
a)
A linguagem, malak yaweh , é um título singular e peculiar mostrando que esse
personagem era mais do que um anjo.
b)
No Antigo Testamento, ele é consistentemente apresentado como Jeová: O anjo
apareceu, mas Deus, ou o Senhor, falou.
c)
As promessas ou orientações dadas por este ser são tais que somente Deus
poderia ter assim dado.
d)
Este anjo, identificado como Jeová, apesar de tudo é apresentado de forma
distinta de Jeová e clama por Jeová. Portanto, este anjo parece ser uma
Cristofania, ou pré-encarnação do Filho de Deus, Jesus Cristo.
e)
Quando o Anjo do Senhor apareceu a Josué, diz a Palavra do Senhor que ele (Josué)
“...se prostrou sobre o seu rosto na terra, e O adorou, e disse-lhe: Que diz
meu Senhor ao seu servo?”(Js 5.1). Se o Anjo do Senhor não fosse o próprio
Senhor (o Senhor Jesus), o anjo (caso fosse simplesmente “um anjo”) teria
proibido a Josué de adorá-lo, como ocorreu em Ap 19.10 e Ap 22.8,9.
f)
Em Jz 2.1, o Anjo do Senhor diz: Do Egito Eu vos fiz subir, e Eu vos trouxe à
terra que a vossos pais Eu tinha jurado, e Eu disse: Eu nunca invalidarei o meu
concerto convosco (o grifo nos pronomes é nosso). Comparada esta passagem com
outras que descrevem o mesmo evento, verifica-se que eram atos do Senhor, o
Deus do concerto israelita. Foi Ele quem jurou a Abraão, a Isaque e a Jacó que
aos seus descendentes daria a terra de Canaã (Gn 13.14-17; 17.8). Jurou que esse
concerto seria eterno. Ele tirou os israelitas do Egito (Êx 20.1,2) e Ele os
levou à terra prometida (Js 1.1,2).
|
h)
Outra prova é que no contexto neotestamentário, a Bíblia deixa de utilizar-se
do termo “o Anjo do Senhor” como pessoa específica. Isto é demonstrado pelo fato
de que o artigo definido masculino singular “o” deixa de ser utilizado, sendo
substituído pelo artigo indefinido “um”. Alguns exemplos disto são os textos de
Lc 1.11; At 12.7 e At 12.23, dentre muitos outros. Infelizmente, nem todas as
ocorrências no Novo Testamento, na versão ARC, aonde deveria ocorrer a
expressão “um” anjo do Senhor, acontece. Em vez disso, se encontra o termo “o”
anjo do Senhor. Fato que foi corrigido na versão ARA, nos textos citados e em
outros correlatos.
Esta
substituição na ARA possui um grande significado. Pois no contexto do Novo
Testamento, contemporâneo ou posterior à encarnação, as manifestações
angelicais não eram do Anjo do Senhor, mas meramente de um de Seus anjos, pois
o Anjo do Senhor já havia sido manifestado na carne (1Tm 3.16). 4.1.2.
2 - O Arcanjo
Miguel
Miguel
tem seu correspondente no grego “Michael e no hebraico mika'el. O nome Miguel é
muito expressivo, “quem é como Deus?” Em que aspecto ele é semelhante a Deus
não foi revelado, mas temos três passagens nas quais ele foi diretamente
mencionado e onde vemos que ele tem grande autoridade. De acordo com Dn 12.1,
ele é o “defensor do povo de Daniel - Israel”.
Em
Judas v.9 ele teve uma controvérsia com
Satanás sobre o corpo de Moisés; mas nessa situação e apesar de toda a sua
grandeza, ele não se atreveu a “proferir juízo infamatório contra ele”, mas
confiando na sua dependência de Deus, ele declara: “...o Senhor te repreenda”.
Miguel se encontra novamente na predição registrada em Ap 12.7- 12. Ele, como
chefe dos exércitos do céu, participa de uma batalha vitoriosa no céu contra
Satanás e os seus anjos. Temos ainda a revelação de que a “voz do arcanjo” será
ouvida quando Cristo voltar para buscar a Igreja (1Ts 4.16).
A
tradição sobre a existência de arcanjos não fazia parte original da fé judaica.
Assim, na literatura bíblica, Miguel é introduzido em Dn 10.13,21 e 12.1 e
reaparece no Novo Testamento em Jd 9 e Ap 12.7. Embora algumas literaturas tenham Gabriel como outro Arcanjo, a Bíblia
só revela a existência de um único Arcanjo, Miguel. Isto é demonstrado pelo
fato de que nas duas ocorrências da palavra grega archangelos , “arcanjo”.
3 - Gabriel
O
vocábulo Gabriel tem sua correspondente no hebraico “geber El”, e significa
“homem de Deus”. Aparece quatro vezes nas Escrituras como revelador do propósito
divino. No Antigo Testamento ele falou a Daniel sobre o final dos tempos (Dn
8.15-27). Semelhantemente, deu a Daniel a predição quase incomparável de Dn
9.20-27. O profeta descobriu (Jr 25.11-12) que o período que Israel tinha de
permanecer na Babilônia era de setenta anos e que esse tempo estava para se
completar. Então se entregou à oração pelo seu povo. A oração, conforme
registrada, Gabriel passou com incrível rapidez do trono de Deus para o profeta
que orava na Terra. Foi então que este anjo revelou o propósito de Jeová quanto
ao futuro de Israel. No Novo Testamento trouxe a Zacarias a mensagem do
nascimento João (Lc 1.11-20) e foi ele que veio com a maior de todas as
mensagens à Maria quanto ao nascimento de Cristo e o Seu ministério como Rei
sobre o trono de Davi (Lc 1.26-33). Apresenta-se como aquele que “assiste
diante de Deus” (Lc 1.19).
4 - Querubins
Querubim
tem sua correspondente no hebraico “qeruvim” (Gn 3.22-24; Ez 10.1-3). Significa
“bendizer, louvar, adorar”. Os querubins estão
sempre associados com a santidade de Deus e a adoração que a sua presença
imediata inspira. O título querubim fala de sua posição elevada e santa e
sua responsabilidade está intimamente relacionada com o trono de Deus como
defensores de Seu caráter e presença santa. Proteger
a santidade de Deus é uma atividade importante deles. Os querubins aparecem
pela primeira vez junto ao portão do Éden, depois que o homem foi expulso e
como protetores para que o homem não retorne poluindo a santa presença de Deus.
Aparecem novamente como protetores, embora em imagens de ouro, sobre a arca da
aliança, onde Deus se comprazia em habitar. A cortina do tabernáculo separava a
presença divina do povo ímpio, tinha bordados de figuras de querubins (Êx
26.1). Ezequiel refere-se a estes seres chamando-os pelo seu título dezenove
vezes e a verdade relacionada com eles deriva destas passagens. Ele os
apresenta com quatro rostos diferentes: de um leão, de um boi, de um homem e a
face de uma águia (Ez 1.3-28; 10.1-22). Este simbolismo relaciona-se
imediatamente com as criaturas viventes da visão de João (Ap 4.6-5.14).
4.5.
5 - Serafins (Is 6.1-3)
A
palavra serafins do hebraico “saraph” significa “ardentes”, “queimadores”,
“irradiantes da glória de Deus”, “brilhantes de Deus”, “incandescidos de Deus”.
Declaram a glória incomparável de Deus e a sua santidade suprema. O título
serafins fala de adoração incessante, do seu ministério de purificação e de sua
humildade. Eles aparecem apenas uma vez nas Escrituras sob esta designação (Is
6.1-3). Sua atribuição tripla de adoração conforme registrada por Isaías foi
repetida por João (Ap 4.8) e sob o título de criaturas viventes. Alguns
estudiosos acreditam que os “seres viventes” (ou animais, Ap 4.6-9) são
sinônimos de serafins e querubins. Todavia, os querubins em Ezequiel parecem
semelhantes, e os “seres viventes” em Apocalipse são diferentes entre si.
6 - Anjos eleitos
A
referência, em 1Tm 5.21, aos “anjos eleitos”, descortina imediatamente um campo
interessante de pesquisa referente ao alcance que a doutrina da eleição
soberana deve ter na relação dos anjos para com o seu Criador. É preciso
aceitar que os anjos foram criados com um propósito e que no seu reino, assim
como o homem, os desígnios do Criador serão executados até o final. A queda de
alguns anjos foi tão antecipada por Deus quanto à queda do homem. Está também
implícito que os anjos passaram por um período de experiência.
7 - Governadores
Percebem-se
na Bíblia organizações entre os anjos bons. Em Cl 1.16, Paulo fala de tronos,
soberanias (domínios), principados e potestades (poderes) e acrescenta que
foram criados por intermédio dEle e para Ele. Isto parece incluir que ele está
se referindo aos anjos bons. Em Efésios 1.21, a referência parece incluir tanto
os anjos bons quanto maus. Nas outras passagens, essa terminologia se refere
definitivamente apenas aos anjos maus (Rm 8.38; Ef 6.13; Cl 2.15).
a)
Tronos (thronoi) se referem a seres angélicos, cujo lugar é na presença
imediata de Deus. Esses anjos são investidos de poder real que exercem sob
Deus;
b)
Domínios (gr. kuriotetes) parecem estar próximos dos thronoi em dignidade;
c)
Principados (gr. archai) parecem se referir a governantes sobre povos e nações
distintos. Assim, Miguel é tido como príncipe de Israel (Dn 10.21; 12.1); assim
lemos também a respeito do príncipe da Pérsia e do príncipe da Grécia (Dn
10.20). Isto é, cada um é um príncipe em um destes principados;
d)
Poderes – potestades (gr. exousiai) são possivelmente autoridades subordinadas,
servindo sob uma das outras ordens. É verdade que não podemos saber com certeza
o significado real desses termos, mas esses acima parecem ser uma explicação
plausível. 4.8.
8 - Anjos especialmente
nomeados
Certos
anjos só ficaram conhecidos pelo serviço que prestaram. Destes, temos aqueles
que serviram como anjos de juízo (Gn 19.13; 2Sm 24.16; 2Rs 19.35; Ez 9.1,5,7;
Sl 78.49). Dentre eles estão os Vigilantes
(Dn 4.13,23). Aquele que tem autoridade
sobre o fogo: “E saiu do Altar outro anjo, que tinha poder sobre o
fogo...”. Esse Anjo é aquele que, cuja missão é conservar o fogo aceso no altar
celeste (Ap 14.18). O anjo das águas: “E ouvi o anjo das
águas que dizia: Justo és tu, ó Senhor, que és, e que eras, e santo és, porque
julgaste estas coisas” (Ap 16.5). O anjo que aparece neste versículo tem por
tarefa guardar os suprimentos de água do globo terrestre. Anjos que controlam os ventos: “E, depois destas coisas, vi quatro
anjos que estavam sobre os quatro cantos da terra, retendo os quatro ventos da
terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem
contra árvore alguma” (Ap 7.1). Os anjos que se acham nos quatro cantos da
terra conservam presos os quatro ventos. Não lhes é permitido soprar e nem
destruir. Anjos guardiões - Das nações - “E olhei e ouvi a voz de muitos anjos ao redor
do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o número deles milhões de milhões
e milhares de milhares” (Ap 5.11).
A
exemplo de Apocalipse, Mateus 26.53, Hebreus 12.22, e Salmos 68.17 indicam que
os anjos a serviço de Deus são muito numerosos. Outras passagens indicam que
eles observam os homens, prestando serviços em prol de nações, comunidades e
indivíduos (Hb 1.14; Mt 18.10; Sl 9.1; Dn 10.13; 12.1; Js 5.14). Os trechos
bíblicos que dão apoio à doutrina dos anjos guardiões são Jó 33.23; Dn 10.13;
Mt 18.10; Hb 1.14 e Ap 1.20. 4.12.2.
9 - Os Anjos Maus
Eles
estão divididos em duas classes distintas: os livres e os prisioneiros. Aqueles
que estão livres andam pelas regiões celestiais sob o governo de seu príncipe e
líder, Satanás, que é o único que recebe menção específica na Bíblia (Mt 12.24;
Mt 25.41). Esses espíritos malignos em liberdade, sob o comando de Satanás, de
quem são emissários e súditos (Mt 12.26), são tão numerosos que estão em todo o
lugar. Os anjos caídos que estão presos são aqueles que abandonaram sua própria
habitação, e tornaram-se tão depravados ou maus, que Deus os encerrou no abismo
(tártaro, Jd v.6; Ap 9.1,2,11).
9.1 - Os Anjos que são
Mantidos Aprisionados.
Tanto
o apóstolo Pedro como Judas irmão de Tiago (2 Pe 2.4; Jd v.6) concordam ao se
referirem aos mesmos anjos. Pedro diz que eles pecaram e que Deus os precipitou
no Tártaro, entregando-os ao abismo de trevas e reservando-os para juízo. Judas
apresenta seu pecado como sendo o de haverem abandonado seu próprio principado
e domicílio. Pode ser que Judas estivesse pensando na passagem de Dt 32.8 da
Septuaginta. Lá afirma que Deus dividiu as nações “de acordo com o número dos
anjos de Deus”. Assume-se que Deus tenha nomeado um ou mais anjos para cada uma
das nações. O fato de que várias nações estão assim sob um ou outro desses
príncipes “angélicos” é evidenciado por Daniel (10.13,20; 11.1; 12.1). Deixar
seu próprio principado poderia assim significar infidelidade no cumprimento de
seus deveres; mais provavelmente significa que eles tentaram obter um
principado mais cobiçado. Como castigo do seu pecado, Deus os precipitou no
Tártaro. É só aqui que esta palavra aparece no Novo Testamento. Para Homero
poeta grego, autor dos épicos Ilíada e Odisséia (séc. IX a.C.), o Tártaro é um
lugar sombrio abaixo do Hades. Se os homens maus descem ao Hades, não parece
improvável que Tártaro, o lugar onde os anjos maus estão confinados seja ainda
mais abaixo. Seu castigo consiste de estarem confinados em abismos de trevas e
estarem presos por algemas eternas, reservados para o juízo do grande dia. As
algemas são “eternas” (gr. aidiois), no sentido de que nunca se desgastam.
Serão usadas, entretanto, apenas até o dia do juízo, ocasião em que serão
lançados no lago do fogo.
9.2 - Os Anjos Maus que
estão em Liberdade .
Estes
são normalmente mencionados em conexão com Satanás, seu líder (Mt 25.41; Ap
12.7-9). Mas, Sl 78.49; Rm 8.38; 1Co 6.3; Ap 9.14 referem-se a eles
separadamente. Estão, é claro, incluído em “todo principado e potestade, e
poder, e domínio” (Ef 1.21), e são mencionados especificamente em Ef 6.12 e Cl
2.15. Sua principal ocupação é a de apoiar seu líder Satanás na luta dele
contra os anjos bons e o povo e a causa de Deus.
Unidade 4
SATANOLOGIA E DEMONOLOGIA
A - SATANOLOGIA
Em
tempos remotos, houve rebelião entre os seres espirituais, nos lugares elevados
(Jó 4.18; Mt 25.41; 2Pe 2.4). O mais elevado dos anjos “querubim ungido”,
encabeçou essa rebelião. Por certo há muitas ordens de seres angelicais,
algumas dotadas de grande poder, e outras de poder inferior aos homens, algumas
elementares, talvez similares aos animais irracionais, e outras com
inteligência ainda inferior aos irracionais.
1 – A Queda de Lúcifer e de outros anjos
1.1 - O Fato de sua
Queda
Tudo
nos leva a crer que os anjos foram criados em estado de perfeição. Quando nos
referimos ao relato da criação em Gn 1, lemos sete vezes que o que Deus havia
feito era bom. No último versículo desse capítulo, lemos “viu Deus tudo quanto
fizera, e eis que era muito bom”. Isso certamente inclui a perfeição dos anjos
em santidade quando originalmente criados. Não poucos teólogos acham que Ez
28.15 se refere a Satanás. Assim sendo, então ele é definitivamente mostrado
como tendo sido criado perfeito. Todavia, diversas passagens mostram alguns dos
anjos como maus (Sl 78.49; Mt 25.41; Ap 9.11; 12.7-9), isto se deve ao fato de
terem deixado seu próprio principado e habitação apropriada (Jd 6) e pecado
(2Pe 2.4). Não há dúvida que Lúcifer tenha sido o chefe da apostasia. Is 14.12
se refere a ele como sendo a Estrela da Manhã e Filho da Alva, e lamenta a sua
queda. Ez 28.15-17 semelhantemente descreve sua queda. Não pode haver dúvidas,
portanto, de que houve realmente uma queda para alguns dos anjos.
1.2 - A Época da sua Queda
A
Escritura silencia quanto a este ponto; mas deixa claro que a queda dos anjos
se deu antes da do homem, já que Satanás entrou no Jardim sob a forma de
serpente e induziu Eva a pecar.
1.3 - A Causa de sua
Queda
Este
é dos profundos mistérios da teologia. Mostramos acima que os anjos foram
criados perfeitos. Isto significa que toda a afeição de seus corações era
dirigida por Deus. A questão é: como pôde tal ser cair? Como pôde a primeira
afeição menos santa brotar em tal coração, e como pôde a vontade receber o
primeiro impulso para se afastar de Deus? Diversas soluções para o problema têm
sido propostas. Vamos ver algumas delas:
A
primeira é a de que tudo que existe
se deve a Deus. Os que creem nesta doutrina afirmam que, portanto, Ele deve ser
o autor do pecado também. Replicamos que se Deus for o autor do pecado e aí
condenar a criatura por cometer pecado, então não temos um universo moral.
A
segunda é a crença de que o mal
resulta da natureza do mundo. É assim que creem todos os sistemas pessimistas,
do budismo até os nossos tempos. Arthur Schopenhauer, filósofo alemão
(1788-1860) afirmava que a existência do mundo era o maior de todos os males e
a fonte de todos os outros males. Eduard Von Hartmann, filósofo alemão
(1842-1905) chamou a criação de crime imperdoável. Mas as Escrituras declaram
repetidamente que tudo que Deus fez é bom; e positivamente rejeitam a ideia de
que a natureza é inerentemente má (Cl 2.20-22).
A
terceira é a ideia de Georg W. Friedrich
Hegel, filósofo alemão (1770-1831), bem como da maioria dos evolucionistas, a
saber: que o mal resulta da natureza da criatura. Eles afirmam que o pecado é
um estágio necessário no desenvolvimento do espírito. É simplesmente um
progresso de baixíssimas origens da existência, através do desenvolvimento
evolucionário até os mais altos pontos.
As
Escrituras desconhecem tal desenvolvimento evolucionário e vê o universo e as
criaturas como originalmente perfeitas. É bom lembrar que a criatura tinha originalmente
o que os teólogos latinos chamavam de “posse pecare et posse non pecare”, isto
é, a capacidade de pecar e a capacidade de não pecar. Ela foi colocada na
posição de poder fazer qualquer uma das duas coisas sem ser constrangida a
fazer uma ou outra coisa. Em outras palavras, sua vontade era autônoma.
A
quarta ideia, apoiada em bases
bíblicas, é de que a queda do “querubim ungido” resultou de sua própria
escolha. Deus estabeleceu a sua soberana vontade para ser obedecida e apreciada
por seus anjos. Entretanto, a vontade divina não seria obedecida por força, mas
livremente. É por esse princípio bíblico que podemos entender a causa da queda.
A Escritura de Isaías 14 é tipológica. A profecia fala do rei Nabucodonosor, um
rei ilustrado à semelhança de Thobal, rei de Tiro. O que precedeu a queda do
“querubim” foi a sua ilusão e engano acerca do seu próprio poder nas hostes
angelicais. Imaginando-se superior a todos os demais anjos criados, pretendeu
tomar o lugar do Criador.
Cinco
afirmativas descritas em Isaías 14.13,14 revelam as pretensões do “querubim”:
A
primeira afirmativa foi “eu subirei ao céu”. Uma tentativa de estar acima de
toda a criação e do próprio Deus. As expressões “eu subirei ao céu”, e “estavas
no Éden, jardim de Deus” devem ser analisadas a luz de “como caíste do céu”, a
fim de que o Éden, aqui em apreço, não seja confundido com o Éden terrestre.
Naqueles primórdios o jardim do Éden fora preparado com tanto magnificência
para o “querubim”, “o perfeito em formosura” que descarta a idéia de um Éden
mineral. O Éden magnífico e riquíssimo do “querubim” existiu antes do Éden de
Adão e Eva e com certeza, em outra dimensão e glória, tratava-se de um Éden
metafísico, espiritual. A pomposa descrição de Ezequiel, embora nos mostre
haver sido o Éden um reino mineral das pedras preciosas, isto se dar apenas a
título de conotação, ao passo que, segundo Gn 2.5-15, o Éden de Adão era de
natureza vegetal e mineral. Aquele era espiritual, criado para um ser
espiritual, e este material, físico, pois seria o habitat de nossos pais, não
confundamos, portanto, os Edens. A segunda, “acima das estrelas de Deus
exaltarei o meu trono”. Quando se refere às estrelas de Deus, ele estava
falando dos demais anjos criados. A terceira, “no monte da congregação me assentarei”.
O monte da congregação refere-se ao lugar do trono de Deus onde ele queria
assentar-se. A quarta, “subirei acima das mais altas nuvens”. Mais uma vez, ele
revela sua intenção presunçosa de superioridade. A quinta “serei semelhante ao
Altíssimo”. Aqui estava a mais grave das pretensões de Lúcifer. Ele queria
colocar-se em posição unilateral em relação ao Criador.
Devemos,
portanto, concluir que a queda dos anjos se deu devido a sua revolta auto
determinada contra Deus. Foi sua escolha, de si próprio e seus interesses em
lugar de escolherem a Deus e Seus interesses. Se indagarmos que motivo em
particular pode ter estado por trás dessa rebelião, parecemos obter diversas
respostas das Escrituras. Grande prosperidade e beleza parecem ser apontadas como
possíveis causas. O rei de Tiro simboliza Satanás em Ez 28.11-19; e diz-se que
ele caiu devido a essas coisas (1Tm 3.6). Ambição desmedida e o desejo de ser
mais que Deus parecem outra causa. O rei da Babilônia é acusado de ter essa
ambição, e ele também simboliza Satanás (Is 14.13,14). A queda de Lúcifer foi
inevitável e consequente. Sua vontade irrefreada de querer ser igual a Deus,
aguçou o interesse de grande número de anjos que resolveu acompanhá-lo. Por
esse ato pecaminoso contra o seu Criador, Lúcifer foi destituído de suas
funções celestiais e condenado a execração eterna. Mas ele continua como o
instigador do pecado no mundo (Rm 7.14).
1.4 - O Resultado da
Queda
As
Escrituras registram diversos resultados decorrentes sua queda, entre eles:
a)
Todos eles perderam sua santidade original e se tornaram corruptos em natureza
e conduta (Mt 10.1; Ef 6.11,12; Ap 12.9);
b)
alguns deles foram lançados no inferno (tártaro) e estão acorrentados até o dia
do julgamento (2 Pe 2.4);
c)
outros permaneceram em liberdade e trabalham em definida oposição à obra dos
anjos bons (Ap 12.7-9; Dn 10.12,13,20,21; Jd 9);
d)
pode também ter havido um efeito sobre a criação original em Gn 1;
e)
eles serão, em um dia futuro, atirados para a terra (Ap 12.8,9) e, após seu
julgamento (1Co 6.3), no lago de fogo (Mt 25.41; 2Pe 2.4; Jd 6).
Discordamos
da ideia de que a redenção de Cristo tenha incluído os anjos caídos, como
querem alguns teólogos. O estado de condenação dos “anjos caídos” é
irreversível, assim como é imutável, a situação daqueles que partiram para a
eternidade sem Cristo (Ap 20.10). “E o diabo, que os enganava, foi lançado no
lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de
noite serão atormentados para todo o sempre”. O poder de Satanás acabará então,
pois Deus o lançará no lago de fogo para todo o sempre (Is 14.9-17). Ali, ele
não reinará, sendo sempre atormentado, dia e noite, eternamente.
Finalmente,
seria bom que os que advogam salvação para o diabo e seus anjos, observassem os
textos bíblicos abaixo:
a)
Anuncia “tribulação e angústia” (Rm 2.9).
b)
“Pranto e ranger de dentes” (Mt 22.13; 25.30).
c)
“Eterna perdição” (2Ts 1.9).
d)
“Fornalha de fogo” (Mt 13.42,50).
e)
Preconiza “cadeias da escuridão” (2Pe 2.4).
f)
Do “tormento eterno” (Mt 25.46), de um “inferno” e de um “fogo que nunca se
apaga” (Mc 9.43).
g)
De um “ardente lago de fogo e de enxofre” (Ap 19.20). h) E onde “a fumaça do seu tormento sobe para
todo o sempre; e não têm repouso, nem de dia nem de noite” (Ap 14.11).
2 - Satanás
Satanás
(gr. Satã, que significa adversário), foi antes um elevado anjo, criado
perfeito e bom. Foi designado como ministro junto ao trono de Deus, porém num
certo tempo, antes de o mundo existir, rebelou-se e tornou-se o principal
adversário de Deus e dos homens (Ez 28.12-15). Satanás na sua rebelião contra
Deus arrastou consigo uma grande multidão de anjos inferiores (Ap 12.4).
Satanás e muitos desses anjos inferiores decaídos foram banidos para a terra e
sua atmosfera circundante, onde operam limitados segundo a vontade permissiva
de Deus.
Satanás,
também chamado “a serpente”, provocou a queda da raça humana (Gn 3.1-6). Nesse
episódio, a serpente levantou-se contra Deus através da sua criação. Declarou
que aquilo que Deus dissera a Adão não era a verdade, por fim, ela foi a causa
de Deus amaldiçoar a criação, inclusive a raça humana que ele fizera à sua
imagem. A serpente é posteriormente identificada com Satanás ou o Diabo (Ap
12.9; 20.2). Certamente Satanás controlou a serpente e usou-a como instrumento
para efetuar a tentação (2Co 11.3,14).
2.1 Todo o Mundo está no
Maligno.
Nunca
compreenderemos adequadamente o Novo Testamento a não ser que reconheçamos o
fato subjacente nele de que Satanás é o deus deste mundo. Ele é o maligno, e o
seu poder controla o presente século mau (Lc 13.16; 2Co 4.4; Gl 1.4; Ef
6.12).
As
Escrituras não ensinam que Deus hoje controla diretamente este mundo ímpio,
cheio de gente pecaminosa, de maldade, de crueldade, de injustiça, de impiedade
etc. Deus não deseja, nem causa, de nenhuma maneira, todo o sofrimento que há
no mundo; nem tudo quanto aqui ocorre procede da sua perfeita vontade. A Bíblia
indica que atualmente o mundo não está sob o domínio de Deus, mas em rebelião
contra seu governo e sob o domínio de Satanás. Por causa dessa condição, Cristo
veio a morrer (Jo 3.16) e reconciliar o mundo com Deus (2Co 5.18,19). Nunca
devemos afirmar que “Deus está no controle de tudo”, a fim de esquivar-nos da
responsabilidade de lutar seriamente contra o pecado, a iniquidade ou a
mornidão espiritual.
Há,
no entanto, um sentido em que Deus está no controle do mundo ímpio. Deus é
soberano e, portanto, todas as coisas acontecem de acordo com sua vontade
permissiva e controle ou, às vezes, através da sua ação direta, de conformidade
com o seu propósito e sabedoria. Mesmo assim, na presente era da história, Deus
tem limitado seu supremo poder e domínio sobre o mundo. Esta limitação é apenas
temporária, porque no tempo determinado pela sua sabedoria, Ele destruirá toda
a iniquidade e o próprio Satanás (Ap 19.20).
Somente
então é que “os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e
ele reinará para todo o sempre” (Ap 11.15).
O
império do mal sobre o qual Satanás reina é altamente organizado e exerce
autoridade sobre regiões do mundo inferior, os anjos caídos (Ap 12.7), os
homens perdidos (Jo 12.31; Ef 2.2) e o mundo em geral (Lc 4.5,6; 2Co 4.4).
Satanás não é onipresente, onipotente, nem onisciente; por isso a maior parte
da sua atividade é delegada a seus inumeráveis demônios (Ap 16.13,14).
Jesus
veio à terra a fim de destruir as obras de Satanás (1Jo 3.8), de estabelecer o
reino de Deus e de livrar o homem do domínio de Satanás (1Jo 3.8), Lc 4.19;
13.16; At 26.18). Cristo, pela sua morte e ressurreição, derrotou Satanás e
ganhou a vitória final de Deus sobre ele (Hb 2.14).
No
fim da presente era, Satanás será confinado ao abismo durante mil anos (Ap
20.1-3). Depois disso será solto, após o que fará uma derradeira tentativa de
derrotar Deus, seguindo-se sua ruína final, que será o seu lançamento no lago
do fogo (Ap 20.7-10).
Satanás
atualmente guerreia contra Deus e seu povo (Ef 6.11-18), procurando desviar os
fiéis da sua lealdade a Cristo (2Co 11.3) e fazê-los pecar e viver segundo o
sistema do mundo (1Tm 5.15). O cristão deve sempre orar por livramento do poder
de Satanás, para manter-se alerta contra seus ardis e tentações (Ef 6.11), e
resistir-lhe no combate espiritual, permanecendo firme na fé (Ef 6.10-18).
2.2 A Personalidade de
Satanás
O
substantivo personalidade vem do grego idiótens etos, que significa propriedade
particular, caráter próprio. Pessoa na língua grega é um substantivo feminino
referente a um homem ou uma mulher - antropos,
substantivo masculino -, e no termo gramático e teológico prósopon, que significa face, figura, gesto, olhar, aspecto,
máscara, papel, personagem. Personalidade significa forma de vida caracterizada
por uma existência alto consciente que possui intelecto, emoções e vontade. É,
portanto, o caráter essencial e exclusivo de uma pessoa; aquilo que a distingue
de outra. Na psicologia é a individualidade consciente.
O
acima exposto justifica-se pelo fato de que atualmente existe uma forte
tendência, entre os professores modernistas, em eliminar a personalidade de
Satanás. Falam a respeito do que era antigamente chamado de “diabo” como sendo
simplesmente o “mal”. As Escrituras exprimem com freqüência relativamente a
personalidade de Satanás. Assim sendo, pronomes pessoais são usados para se
referir a ele (Jó 1.8,12; 2.2,3,6; Zc 3.2; Mt 4.10; Jo 8.44); atributos
pessoais lhe são consignados (Is 14.13,14 – vontade, Jó 1.9,10 – conhecimento);
e atos pessoais são desempenhados por ele (Jó 1.9-11; Mt 4.1-11; Ap
12.7-10).
Consequentemente,
é bom que saibamos que Satanás não é um símbolo mitológico do mal. É um ser
vivo, real, inteligente. Não podemos esquecer que seu nome verdadeiro é Lúcifer
(heb. hekb), portador de luz. Ele foi dotado de livre arbítrio, perfeito quanto
as suas ações. Toda a sua personalidade e caráter eram perfeitos como a luz é
perfeita na sua própria essência; ele não é a luz, Deus é luz, mas na permissão
divina ele refletia, ele estava sempre participando da glória e da luz
divina.
2.3 O Estado Original de
Satanás
No
livro do profeta Ezequiel 28.1-2 um governador é apresentado como o príncipe de
Tiro. Ele é descrito como um homem que se tornou tão frívolo quanto as suas
riquezas e inteligência, a ponto de reivindicar ser igual a Deus. “Veio a mim a
palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, levanta lamentações contra o rei de
Tiro, e diz-lhe: Assim diz o Senhor Deus: Tu és o sinete da perfeição, cheio de
sabedoria e formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus, de todas as pedras
preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o
jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes
e os ornamentos; no dia em que foste criado foram eles preparados. Tu eras
querubim da guarda, ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de
Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o
dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti” (Ez 28.11-15).
No
texto acima encontramos Deus lamentando por essa pessoa; ele – sinete da
perfeição, cheio de sabedoria e formosura, querubim da guarda, ungido etc. Era,
por conseguinte, o mais perfeito, o mais belo, e mais sábio de toda a criação
de Deus!
Estaremos
em condições de entender quão perfeito é o perfeito? Ele é chamado de “querubim
da guarda, ungido”. Querubim é um ser angélico de elevada categoria associado
com a presença santa de Deus e sua glória. Ele é chamado “o ungido”, o que
indica favor supremo de Deus. “Ungido” é a mesma palavra que se usa falando do
Messias, rei ungido de Deus. Esta pessoa era o governador e líder dos seres
angélicos e evidentemente os guiava em seu louvor a Deus e júbilo. A palavra
hebraica traduzida “da guarda” em Ezequiel 28.14 e 16 significa literalmente
“quem conduz”. Observamos, ainda que lhe foram dadas todas as joias fabulosas,
indicando também sua categoria exaltada. Ele estivera no “Éden, jardim de Deus”
e “no monte santo de Deus”. Ele andava “no brilho das pedras”, o que é um
símbolo amiúde usado para indicar a presença santa de Deus. Tal descrição não
poderia aplicar-se a um mero ser humano.
Entretanto,
foi perfeito até “que se achou iniqüidade nele”. Esta falta de equidade marcou
a queda de Lúcifer e a origem de Satanás (Is 14.12-14).
É
importante observar que Deus Se dirige a Satanás mediante a pessoa do príncipe
de Tiro (Ez 28). Satanás é a fonte invisível da arrogância e auto- deificação
deste príncipe. Scofield (Bíblia de Estudo), descreve outros casos de
tratamento indireto com Satanás mediante um homem ou outra criatura: quando
Deus Se dirigiu à serpente no jardim, em Gênesis 3.14; quando Jesus falou a
Satanás através de Pedro, em Mateus 16.23. “A visão não é de Satanás em sua
própria pessoa, mas de Satanás em seu desempenho num rei terreno e através
desse rei que se arroga honras divinas”.
2.4 A relação figurada
com o Rei de Tiro (Ez 28.1-10 )
No
devido contexto, a profecia de Ezequiel contra o rei de Tiro contém uma
referência velada a Satanás como o verdadeiro governante de Tiro e como o deus
deste mundo (2Co 4.4; 1Jo 5.19). O rei é descrito como um visitante que estava
no jardim do Éden (Ez 28.13), que fora um anjo, querubim ungido (Ez 28.14), e
uma criatura perfeita em todos os seus caminhos, até que nela se achou
iniqüidade (Ez 28.15). Por causa do seu orgulho pecaminoso (Ez 28.17), foi
precipitado do monte de Deus (Ez 28.16,17; Is 14.13-15).
Nos
primeiros dez versículos, o rei de Tiro é apresentado literalmente como alguém
conhecido na história como Thobal (ou Ithobaal II) que reinou em 586 a.C.
Naquele período, Thobal, como rei de Tiro, uma cidade-reino, encheu-se de
orgulho e presunção, imaginando-se um deus. No versículo 2, o profeta fala do “príncipe
de Tiro” e no versículo 12 fala do “rei de Tiro”. Na primeira parte quando fala
do “príncipe”, apresenta-o como um homem vaidoso e presunçoso, que se imaginava
um deus. Porém, o texto quando fala do mesmo personagem no versículo 12, passa
a ter um sentido mais espiritual, e desse modo, entende-se que se trata,
comparativamente, de outro rei, chamado Lúcifer, influenciador espiritual do
príncipe literal. Thobal, o príncipe, imaginava a sua cidade como inexpugnável
por estar construída sobre uma rocha.
O
pecado maior do rei de Tiro era o orgulho, que o levou a exaltar-se qual
divindade. Por isso, ele sofreria o julgamento divino e desceria à cova como todos
os mortais (Ez 28.8). Muitos hoje, especialmente os que foram enganados pelos
ensinos da Nova Era, creem que realmente são deuses, ou que estão se tornando
deuses. Esses enganadores e suas vítimas, caso não se convertam a Deus,
receberão a mesma condenação do rei de Tiro.
2.5 Algumas
características originais (antes da queda)
O
texto (Ez 28.12-16) indica que Lúcifer era possuidor de elevada distinção e
detentor de honrosos títulos e posições, conforme destacaremos a seguir:
a)
“o aferidor da medida” (v. 12). A palavra “selo” (aferidor) é uma tradução fiel
do original hebraico, porque significa que ele era a imagem, perfeita da
criação divina e uma imagem refletida em si mesmo que lhe conferia o privilégio
de ser a mais bela e inteligente criatura de Deus (v. 12). Nele se encontrava a
medida perfeita da criação daquilo que Deus queria. b) “estavas no Éden, jardim de Deus” (v.13).
A menção sobre pedras preciosas existentes no Jardim do Éden tem um sentido
figurado para ilustrar os privilégios dessa criatura chamada Lúcifer,
personificada no texto como “o rei de Tiro”. O ornamento de pedras preciosas
desse personagem indica a grandeza e a beleza de sua aparência. Era um tipo da
glória tipificada e representada por Lúcifer antes da queda.
c)
“no dia em que foste criado” (v. 13). É importante essa expressão porque
declara que Lúcifer é um ser criado por Deus. Como criatura de Deus não lhe
dava o direito de imaginar-se tão superior a ponto de querer ser igual a
Deus.
d)
“querubim ungido para proteger” (v. 14). Na descrição profética de Ezequiel,
Lúcifer pertencia a mais alta classe de seres angélicos. Sua relação com Deus
manifestava-se em sua função específica de proteger o trono de Deus. Esse
ministério de proteção dos querubins tem a ver com a incumbência de preservar
toda a criação divina (Gn 3.24; Êx 25.17-20; Sl 80.1).
e) “perfeito eras nos teus caminhos” (v. 15).
A frase tem na conjugação verbal do verbo ser no passado “eras”, a história
antiga de Lúcifer, como alguém que escondia em seu interior a iniquidade da
vaidade e do orgulho.
2.6 Nomes que designam
Satanás
Satanás
é um ser inteligente, hostil e traiçoeiro. A Bíblia inteira o apresenta
resistindo a Deus e perturbando a paz das nações com guerra, destruição e
misérias. As Escrituras se referem a este ser poderoso através de substantivos
próprios e pronomes pessoais diferentes, como:
a)
Satanás (1Cr 21.1; Jó 1.6; Lc 10.18; Ap 20.2 etc.). Esse título lhe foi dado
após a sua queda da presença de Deus, e significa “adversário” (Zc 3.1; 1Pe
5.8). Foi a partir do momento em que Lúcifer encheu-se de iniqüidade e permitiu
que a presunção o dominasse que aconteceu a grande tragédia universal. Ele
imaginou-se poderoso o suficiente para competir ou mesmo superar o trono de
Deus. Lúcifer, então, se fez adversário e oponente constante e implacável
contra o Criador. Tornou-se, por isso, um arquiinimigo de toda a criação viva
de Deus.
b)
Diabo (Mt 13.39; Jo 13.2 etc.). Este termo aparece apenas no Novo Testamento. É
uma transcrição do vocábulo grego diabolos que significa “caluniador, acusador”
(Ap 12.10). Essa característica ele demonstrou como uma das suas tarefas mais
terríveis e maléficas. Existe uma história onde o diabo calunia e acusa um
servo de Deus chamado Jó. Embora esse homem fosse íntegro, o diabo apareceu
diante do Senhor para acusá-lo (Jô 1.9-11). Portanto, a Bíblia identifica o
diabo como caluniador e acusador dos servos de Deus. Como diabo, ele é o
acusador dos irmãos (Ap 12.10). Ele fala mal de Deus para o homem (Gn 3.1-7) e
do homem para Deus (Ap 12.10. Como pai da mentira, ele tenta acusar os servos
do Senhor, como se Deus não pudesse perceber as suas mentiras (Jo 8.44). Mas a
Bíblia declara que “temos um advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo”
(1Jo 2.1).
c)
Dragão (Is 51.9; Ap 12.3,7 etc.). A palavra “dragão” (tannin) parece significar
literalmente “serpente” ou “monstro marinho”. O dragão é considerado como a
personalidade de Satanás, como o é de Faraó em Ez 29.3; 32.2. O dragão é um
animal marinho e pode apropriadamente representar a atividade de Satanás nos
mares do mundo.
d)
A Antiga serpente (Gn 3.1; Is 27.1 etc.). Este termo indica sua desonestidade
(Jó 26.13) e falsidade (2Co 11.3).
e)
Belzebu (Mt 10.25; 12.24,27), ou mais corretamente, Beelzebul, de acordo com a
palavra grega. Não se conhece o significado exato do termo. Em sírio, significa
“senhor do esterco”. É também sugerido que o termo significa “senhor da casa”.
Esse título tinha uma relação com um deus pagão de Ecrom, por nome Baal-Zebub
ou Baal-Zebul. No texto grego do Novo Testamento, esse nome aparece como
Belzebu, cuja atribuição dada pelos judeus do tempo de Cristo era o de
“príncipe dos demônios” (Mt 10.25; Mc 3.22). Como os judeus usavam esse nome
com um tom de escárnio, porque o mesmo referia-se a um ídolo pagão, Jesus, sem
reserva nem qualquer pudor, identificou Belzebu como Satanás (Lc 11.18,19; Mc
3.24- 27).
f)
Belial ou Beliar (2Co 6.15). Este termo é usado no Velho Testamento no sentido
de “indignidade” (2Sm 23.6). Assim, lemos a respeito dos “filhos de Belial” (Jz
20.13), os “homens de Belial” (1Sm 30.22), e dos “homens depravados”.
g)
Lúcifer. Esse nome não aparece literalmente em nossas versões bíblicas, é a
forma latina traduzido por Jerônimo na Vulgata. Na linguagem metafórica de
Isaías 14.12, o nome Lúcifer aparece vinculado a expressão “filho da alva”. Os
babilônicos criam que os astros celestes ou estrelas fossem seres angélicos,
por isso, “um filho da alva” representava a primeira luz da manhã, e Lúcifer,
em seu primeiro estado possuía esta característica. Este termo significa a
estrela da manhã, um nome dado ao planeta Vênus. Significa literalmente o que
traz a luz, e é um nome usado para Satanás na passagem de Isaías. Como Lúcifer,
Satanás é mostrado como um anjo de luz.
h)
Maligno (Mt 13.19,38; 2Co 6.15 etc.). Esta é uma descrição de seu caráter e sua
obra.
j)
Tentador (Gn 3.1; Jó 2.7; Mt 4.3; Mc 1.13; Jo 13.2 etc.). Este nome indica seu
constante propósito e esforço para levar os homens ao pecado.
k)
deus deste século (2Co 4.4). Como tal, ele tem seus “ministros” (2Co 11.15),
“doutrinas” (1Tm 4.1), “sacrifícios” (1Co 10.20), “sinagogas” (Ap 2.9). Ele
patrocina a religião do homem natural e é, sem dúvida alguma, responsável por
todos os falsos cultos e sistemas que assolam a cristandade hoje em dia.
l)
Príncipe da potestade do ar (Ef 2.2; 6.12). Como tal, ele é o líder dos anjos
maus (Mt 25.41; Ap 12.7) e o príncipe dos demônios (Mt 12.24; Ap 16.13,14). Ele
comanda uma vasta hoste de servos que executam suas ordens, e governa com poder
despótico.
m)
Príncipe deste mundo (Jo 12.31; 14.30). Isto parece se referir a sua influência
sobre os governos deste mundo. Jesus não disputou a reivindicação de algum tipo
de direito aqui neste planeta feita por Satanás em Mt 4.8,9. Mas Deus é claro,
estabeleceu limites definidos para ele, e quando chegar a hora, ele será
subjugado pelo governo dAquele que tem o direito de governar, Jesus, nosso santo
Senhor.
n)
O Adversário (1Pe 5.8; Ap 7.17; 20.2). O Acusador dos filhos de Deus (Ap
12.10). O Enganador (Gn 3.4; 13; 2Co 11.3,13,14; 2Tm 2.26). O pai da mentira
(Jo 8.44).
3 A atuação de
Satanás
3.1 Satanás em relação à
obra redentora de Cristo
O
autor da Epístola aos Hebreus (4.15) diz que Jesus foi tentado em tudo. Essa
declaração parece chocar-se com a lógica da Divindade, uma vez que é impossível
que Deus seja tentado ou submetido à tentação. Porém, devemos analisar essa
declaração sob a ótica cristológica que destaca as duas naturezas de Cristo, a
divina e a humana. Por que Jesus foi tentado pelo Diabo? John Broadus, em seu
comentário de Mateus, responde a essa questão da seguinte maneira: “Ele daria, pela
tentação, prova de sua verdadeira humanidade, de que possuía uma alma humana;
seria parte do seu exemplo a nós; faria parte de sua disciplina pessoal; faria
parte de sua preparação para ser um intercessor compassivo (Hb 2.18; 4.15); era
parte da grande batalha na qual ‘a semente da mulher pisaria a cabeça da
serpente’” (Gn 3.15).
Ao
tentar Jesus, o diabo queria convencê-lo a desistir ou a adiar sua missão. O
tentador sabia qual era a missão de Jesus, por isso, procurou criar-lhe
situações embaraçosas, tentando levá-lo a empregar meios contrários ao plano
divino. Jesus, contudo, não cedeu a nenhuma das insinuações satânicas. Ele não
fraquejou, nem tomou atalhos para cumprir sua missão. Do mesmo modo, somos
tentados a provocar a ira de Deus e a pecar contra a sua vontade soberana, mas
devemos resistir firmes na fé (Tg 4.7; 1Pe 5.8,9).
É
assim que Satanás opera em nossos dias. Ele procura compelir-nos a galgar
lugares e posições fora de tempo, a tomar decisões precipitadas e, acima de
tudo, a contrariar a vontade de Deus. Ele usou várias pessoas para tentar
boicotar a obra de Cristo (Mt 2.16; Mt 16.23; Jo 8.44; Jo 13.27).
3.2 Em relação às
nações
“E
o sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates; e a sua água
secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do Oriente. E da boca do dragão,
e da boca da besta, e da boca do falso profeta vi saírem três espíritos
imundos, semelhantes a rãs, porque são espíritos de demônios, que fazem
prodígios; os quais vão ao encontro dos reis de todo o mundo para os congregar
para a batalha, naquele grande Dia do Deus Todo-poderoso... E os congregaram no
lugar que em hebreu se chama Armagedom” (Ap 16.12-16). Esta será a penúltima
rebelião de Satanás contra Deus. Trata-se das nações do Oriente que,
impulsionadas por forças satânicas, participarão de um grande conflito, a
saber, a guerra do Armagedom (Ap 19.17-21). O sexto anjo prepara o caminho para
a guerra final da presente era, secando o rio Eufrates para deixar os exércitos
do Oriente aproximarem-se de Israel (Is 11.15).
O
v.13 do texto acima citado fala de espíritos imundos semelhantes a rãs que são
demônios operadores de milagres e, assim, enganam as nações para apoiarem o
mal, o pecado e o anticristo. Isso é um sinal evidente que durante a grande
tribulação, os governantes das nações ficarão endemoninhados. É dessa forma que
enganados por Satanás através de seus milagres, urdirão um plano louco que
lançará o mundo inteiro num grande holocausto que dar-se-á no local chamado
Armagedom (gr. harmagedon) (Ap 16.16). Esta região está localizada no centro-
norte da Palestina e significa “vale do Megido” que será o ponto central da
batalha, naquele grande dia do Deus Todo-poderoso (Ap 16.14). Essa guerra será
travada perto do fim da tribulação, e acabará quando Cristo voltar para
destruir os ímpios (Ap 14.19), para libertar o seu povo e para inaugurar seu
reino messiânico. Note os seguintes fatos no tocante a esse evento: Os profetas
do Antigo Testamento profetizaram o evento (Dt 32.43; Jr 25.31; Jl 3.2,9-17; Sf
3.8; Zc 14.2-5); Satanás e os seus demônios reunirão muitas nações sob a
direção do anticristo a fim de guerrearem contra Deus, contra seus exércitos,
contra seu povo e para destruir Jerusalém (Ap 16.13,14,16; 17.14; 19.14,19; Ez
38,39; Zc 14.2). Embora o ponto central esteja na terra de Israel, o evento do
Armagedom envolverá a totalidade do mundo (Jr 25.29-38); Cristo voltará e
intervirá de modo sobrenatural, destruindo o anticristo e os seus exércitos (Ap
19.19-21; Zc 14.1-5), e todos aqueles que desobedecem ao evangelho (Sl 110.5;
Is 66.15,16; 2Ts 1.7-10). Deus também enviará destruição e terremotos sobre o
mundo inteiro nesse período (Ap 16.18,19; Jr 25.29-33).
Após
a batalha do Armagedom Satanás será preso por um período de mil anos, contudo,
depois desse tempo será solto, onde por fim reunirá uma multidão incontável de
pessoas (Ap 20.9) e as comandará para a última batalha na tentativa insana de
derrotar a Deus. “E vi descer do céu um anjo que tinha a chave do abismo e uma
grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o
diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o
encerrou, e pôs selo sobre ele, para que mais não engane as nações...” (Ap
20.3). “E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão e sairá a
enganar as nações que estão sobre os quatro cantos da terra, Gogue e Magogue,
cujo número é como a areia do mar, para as ajuntar em batalha. E subiram sobre
ia largura da terra e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada; mas
desceu fogo do céu e os devorou” (Ap 20.7-9). Como observamos acima, no término
do milênio, Satanás será solto e numa atitude desesperada manipula, pela última
vez, as nações, enganando-se a ponto de supor que ainda poderá derrotar a Deus.
Sairá a enganar aqueles que quiserem rebelar-se contra o reino de Cristo, e
ajuntará uma multidão de semelhantes rebeldes. “Gogue e Magogue” (Ap
20.8).
É
desta forma que Satanás trabalha incansavelmente. Atua cegando os entendimentos
(2Co 4.4); arrebatando a palavra dos corações (Lc 8.12); usando homens para se
oporem à obra de Deus (Ap 2.10). E para tanto mente (At 5.3); acusa e difama
(Ap 12.10); dificulta trabalho (1Ts 2.18); se vale de demônios (Ef 6.11-12);
semeia o joio entre os crentes (Mt 13.38-39); realiza perseguições contra os
seus oponentes (Ap 2.10) etc.
B –
DEMONOLOGIA
A
demonologia é um estudo que vem despertando o interesse das pessoas neste final
de século. Ideias fictícias, invencionices mistificadas, teorias religiosas e
filosóficas e até alusões bíblicas desprovidas de interpretação correta têm
invadido o mundo da literatura secular. O cristão por sua vez não desconhece o
fato de que Satanás na sua rebelião contra Deus arrastou consigo uma grande
multidão de anjos das ordens inferiores (Ap 12.4) que são identificados (após
sua queda) com os demônios ou espíritos e que Satanás e muitos desses anjos
inferiores decaídos foram banidos para a terra e sua atmosfera circundante,
onde operam limitados segundo a vontade permissiva de Deus. Neste momento
teremos a oportunidade de conhecer essa doutrina do ponto de vista da Bíblia,
como única autoridade capaz de revelar e esclarecer a realidade e a identidade
dos demônios.
1 - A doutrina dos
demônios
O
termo “demônio” aparece somente três vezes no Velho Testamento (Dt 32.17; Sl
106.37; Lv 17.7). No Novo Testamento, a palavra “demônio” (gr. daimon ou
daimonion) assumiu o sentido de malignidade, pois eles são seres espirituais,
inteligentes, impuros e com poder para afligir e contaminar os homens moral e
espiritualmente. O termo daimon ocorre em Mt 8.31; e daimoniodes apenas em Tg
3.15. Mas o substantivo daimonion aparece 63 vezes, e o verbo daimonizomai, 13
vezes. No grego clássico, os termos daimonion e daimon se referem a deuses
inferiores, tanto bons como maus.
No
texto de Dt 32.17, o cântico de Moisés destaca que os israelitas caíram em
idolatria: “sacrifícios ofereceram aos demônios (shedhim)”. Entende-se então
que o termo shedhim se identifica não só com as imagens de idolatria, mas
também relaciona o termo com seres espirituais por detrás dos que adoram as
imagens. O termo seirim, etimologicamente significa “o peludo” ou “bode
peludo”. O povo de Israel repudiava esses animais porque eram considerados
objetos de adoração (Lv 17.1-7).
1.1 Quem
são os Demônios
Alguns
teólogos entendem que os demônios e espíritos maus são diferentes dos anjos
caídos. Outros admitem que tanto anjos caídos, espíritos malignos e demônios
são apenas nomes diferentes para os mesmos seres. Antes de apresentarmos o
nosso ponto de vista exibiremos algumas teorias enganosas.
2 - Teorias falsas sobre
os demônios
Essas
teorias apresentam ideias divergentes sobre a origem dos anjos caídos. Teóricos
utilizam textos bíblicos isolados para defenderem suas posições.
2.1 Os demônios são
espíritos sem corpos de habitantes de uma raça pré- adâmica
Acreditam
os defensores dessa teoria que havia na terra uma raça pré-adâmica que se
constituía de criaturas físicas, as quais, pela rebelião de Lúcifer, sofreram a
perda de seus corpos materiais, tornando-se espíritos sem corpos, denominados
“demônios”. Esta ideia vai de encontro ao fato de que em parte alguma das
Escrituras é tal raça mencionada. Mas como a queda de Satanás, de seus anjos e
dos demônios deve ter acontecido entre Gn 1 e 2, não é improvável que, além dos
anjos, houvesse uma raça de seres espirituais que habitava na terra, sobre quem
Satanás dominava, e que também caiu quando ele caiu. Como castigo para ele,
Deus permitiu-lhes estar aí em um estado de desincorporação até que sejam
confinados ao Geena, quando do julgamento final de Satanás e suas hostes.
Diversos escritores modernos que escrevem sobre profecias aceitam este ponto de
vista. Esta ideia parece explicar melhor o fato dos demônios buscarem possuir
seres humanos. A destruição a que se refere 2Pe 3.5,6 poderia se referir a um
julgamento sobre uma tal raça pré-adâmica, através da qual a criação perfeita
de Deus foi transformada no caos de Gn 1.2.
Satanás
é um anjo, e é chamado príncipe dos demônios (Mt 12.24), indicando que os
demônios são anjos e não uma raça pré-adâmica. Além disso, Satanás tem uma
hierarquia bem organizada de anjos (Ef 6.11-12), e é razoável supor que estes
sejam demônios. Alguns demônios já estão presos (2Pe 2.4; Jd 6) e alguns estão
à solta, cumprindo ordens de Satanás. Alguns pensam que a razão para tal
aprisionamento é a participação daqueles demônios no pecado de Gn 6.1-4.
Na
verdade, essa teoria não consegue se definir, porque biblicamente, nunca
existiu raça alguma pré-adâmica que tivesse habitado neste planeta. Por essa
razão, a ideia de uma raça pré-adâmica é pura conjectura, sem nenhum apoio
bíblico. Não há nenhuma raça criada anterior à raça humana de Adão e Eva (Gn
1.26,27). A única criação de seres vivos e inteligentes existentes antes da
criação da raça humana eram os anjos, e estes nunca habitaram na terra como
raça criada.
2.2 Demônios: seres
gerados da relação de anjos com mulheres antediluvianas (Gn 6.1-4)
Não
são poucos os teólogos que apoiam as doutrinas das “testemunhas de Jeová”, ao
defenderem ser “os filhos de Deus” (Gn 6.2) anjos caídos que não guardaram o
seu estado original. Essa teoria defende uma intromissão angélica na esfera
humana e como resultado uma raça de gigantes perversos.
Os
defensores dessa teoria interpretam que “as filhas dos homens” eram realmente
da descendência de Adão e Eva e que “os filhos de Deus” eram anjos que entraram
em conúbio com estas mulheres e produziram uma progênie espantosa de filhos
gigantes. Os que admitem essa teoria partem da idéia de que “os anjos” são
chamados “filhos de Deus” em algumas partes das Escrituras, mui especialmente
no Antigo Testamento. É fato que em algumas Escrituras encontramos a expressão
“filhos de Deus” para referir-se aos “anjos”, mas não podemos omitir outro fato
de que a mesma expressão “filhos de Deus” também se encontra em outras
escrituras referindo-se a “homens”. Isto só é possível perceber à luz do
contexto de cada escritura. Forçar uma interpretação contrariando o contexto,
tanto o imediato como o remoto, significa ferir a revelação divina de cada
escritura. O argumento aceitável, racional e bíblico, é que esses “filhos de
Deus” eram oriundos da linhagem piedosa de Sete e as “filhas dos homens” eram
da linhagem pecaminosa de Caim. O ensino bíblico e canônico é que os anjos são
seres assexuados. Eles não possuem descendência, nem ascendência ou família.
Foram apenas criados e, tantos quantos foram criados no princípio da criação,
são tantos quantos existem.
2.3 Os Demônios são
simples nomes dados a certas enfermidades
Com
o aparecimento das ideias dos atuais grupos da Confissão Positiva e da Teologia
da Prosperidade nos meios pentecostais, essa teoria tem se espalhado como se
fosse planta daninha entre o povo de Deus. Creem e ensinam que as doenças, de
um modo geral, são “espíritos maus” ou “demônios” que precisam ser expelidos.
Essa teoria atribui certas desordens naturais a atividade dos maus espíritos.
Ao nomear as doenças como espíritos maus ou demônios, mesmo aquelas doenças de
causas naturais, estão tratando os espíritos ou demônios como se eles não
tivessem existência real. Devemos ter cuidado em separar as causas dos seus
efeitos. Nem todas as enfermidades são causadas por demônios, e nem todas podem
ser atribuídas aos demônios. Há doenças de causas naturais como consequência da
herança pecaminosa que todo ser humano herda, e há doenças causadas por demônios.
Não podemos tratar as doenças como demônios, pois dessa forma todo crente
quando fica enfermo estaria endemoninhado, o que é um absurdo. Não podemos,
também, tratar os demônios como se não tivessem existência real. Os demônios
não são coisas, nem meras idéias, nem doenças. Eles são seres pessoais e
espirituais que podem causar grandes danos às pessoas. Lucas conta que uma
certa mulher esteve presa por um espírito de enfermidade por 18 anos e Jesus a
libertou daquele jugo. O texto bíblico diz literalmente que aquela mulher
estava possessa de um “espírito de enfermidade” (Lc 13.11), isto é, entende-se
que um espírito maligno aprisionava aquela mulher com uma enfermidade, mas esta
não era um espírito ou demônio. Aquele espírito provocou naquela mulher a
enfermidade que a fizera sofrer por longo tempo.
2.4 Os demônios são os
espíritos de homens malvados que já estão mortos
Isso
é outra tremenda aberração! Não há nenhum apoio bíblico para esta ideia. Essa
teoria foi se desenvolvendo através dos séculos e, em pleno final do século 20,
torna-se generalizada. Porém, a Bíblia refuta veementemente esse falso
conceito. Os demônios são apenas “anjos caídos” e são eles que promovem todo o
engano e confusão na mente humana. Os mortos continuam mortos e seus espíritos
não andam vagando por aí a perturbar a paz das pessoas.
3
- O que a Bíblia afirma serem os
demônios
O
Novo Testamento menciona muitas vezes pessoas sofrendo de opressão ou
influência maligna de Satanás, devido a um espírito maligno que neles habita;
menciona também o conflito de Jesus com os demônios. O Evangelho segundo
Marcos, por exemplo, descreve muitos desses casos: 1.23-27, 32, 34, 39;
3.10-12, 15; 5.1-20; 6.7, 13; 7.25-30; 9.17-29; 16.17.
Os
demônios são seres espirituais com personalidade e inteligência. Como súditos
de Satanás, inimigos de Deus e dos seres humanos (Mt 12.43-45), são malignos,
destrutivos e estão sob a autoridade de Satanás (Mt 4.10 nota).
Os
demônios são a força motriz que está por trás da idolatria, de modo que adorar
falsos deuses é praticamente o mesmo que adorar demônios (1Co 10.20). O Novo
Testamento mostra que o mundo está alienado de Deus e controlado por Satanás
(Jo 12.31; 2Co 4.4; Ef 6.10-12).
Os
demônios são parte das potestades malignas; o cristão tem de lutar
continuamente contra eles (Ef 6.12). Os demônios podem habitar no corpo dos
incrédulos, e, constantemente, o fazem (Mc 5.15; Lc 4.41; 8.27,28; At 16.18) e
falam através das vozes dessas pessoas. Escravizam tais indivíduos e os induzem
à iniquidade, à imoralidade e à destruição.
Os
demônios podem causar doenças físicas (Mt 9.32,33; 12.22; 17.14-18; Mc 9.17-27;
Lc 13.11,16), embora nem todas as doenças e enfermidades procedam de espíritos
maus (Mt 4.24; Lc 5.12,13). Aqueles que se envolvem com espiritismo e magia
(isto é, feitiçaria) estão lidando com espíritos malignos, o que facilmente
leva à possessão demoníaca (At 13.8-10; 19.19; Gl 5.20; Ap 9.20,21).
Os
espíritos malignos estarão grandemente ativos nos últimos dias desta era, na
difusão do ocultismo, imoralidade, violência e crueldade; atacarão a Palavra de
Deus e a sã doutrina (Mt 24.24; 2Co 11.14,15; 1Tm 4.1). O maior surto de
atividade demoníaca ocorrerá através do Anticristo e seus seguidores (2Ts 2.9;
Ap 13.2-8; 16.13,14).
3.1 Jesus e os demônios
Nos
seus milagres, Jesus frequentemente ataca o poder de Satanás e o demonismo (Mc
1.25,26, 34, 39; 3.10,11; 5.1-20; 9.17-29; Lc 13.11,12,16). Um dos seus
propósitos ao vir à terra foi subjugar Satanás e libertar seus escravos (Mt 12.29;
Mc 1.27; Lc 4.18). Jesus derrotou Satanás, em parte pela expulsão de demônios
e, de modo pleno, através da sua morte e ressurreição (Jo 12.31; 16.17; Cl
2.15; Hb 2.14). Deste modo, Ele aniquilou o domínio de Satanás e restaurou o
poder do reino de Deus. O inferno (gr. Gehenna), o lugar de tormento, está
preparado para o diabo e seus demônios - anjos (Mt 8.29; 25.41). Exemplos do
termo Gehenna no grego: Mc 9.43,45,47; Mt 10.28; 18.9.
3.2 O
crente e os demônios
As
Escrituras ensinam que nenhum verdadeiro crente, em quem habita o Espírito
Santo, pode ficar endemoninhado; isto é, o Espírito e os demônios nunca poderão
habitar no mesmo corpo (2Co 6.15,16). Os demônios podem, no entanto,
influenciar os pensamentos, emoções e atos dos crentes que não obedecem aos
ditames do Espírito Santo (Mt 16.23; 2Co 11.3,14).
Jesus
prometeu aos genuínos crentes autoridade sobre o poder de Satanás e das suas
hostes. Ao nos depararmos com eles, devemos aniquilar o poder que querem
exercer sobre nós e sobre outras pessoas, confrontando-os sem trégua pelo poder
do Espírito Santo (Lc 4.14-19). Desta maneira, podemos nos livrar dos poderes
das trevas.
Segundo
a parábola em Mc 3.27, o conflito espiritual contra Satanás envolve três
aspectos: declarar guerra contra Satanás segundo o propósito de Deus (Lc 4.14-
19); ir onde Satanás está (qualquer lugar onde ele tem uma fortaleza), atacá-lo
e vencê-lo pela oração e pela proclamação da Palavra, e destruir suas armas de
engano e tentação demoníacos (Lc 11.20-22); apoderar-se de bens ou posses, isto
é, libertando os cativos do inimigo e entregando-os a Deus para que recebam
perdão e santificação mediante a fé em Cristo (Lc 11.22; At 26.18).
Seguem-se
os passos que cada um deve observar nesta luta contra o mal: Reconhecer que não
estamos num conflito contra a carne e o sangue, mas contra forças espirituais
do mal (Ef 6.12); viver diante de Deus uma vida fervorosamente dedicada à sua
verdade e justiça (Rm 12.1,2; Ef 6.14); Crer que o poder de Satanás pode ser
aniquilado seja onde for o seu domínio (At 26.18; Ef 6.16; 1Ts 5.8) e
reconhecer que o crente tem armas espirituais poderosas dadas por Deus para a
destruição das fortalezas de Satanás (2Co 10.3-5); proclamar o evangelho do
reino, na plenitude do Espírito Santo (Mt 4.23; Lc 1.15-17; At 1.8; 2.4; 8.12;
Rm 1.16; Ef 6.15); confrontar Satanás e o seu poder de modo direto, pela fé no
nome de Jesus (At 16.16-18), ao usar a Palavra de Deus (Ef 6.17), ao orar no
Espírito (At 6.4; Ef 6.18), ao jejuar (Mt 6.16; Mc 9.29) e ao expulsar demônios
(Mt 10.1; 12.28; 17.17-21; Mc 16.17; Lc 10.17; At 5.16; 8.7; 16.18; 19.12);
orar, principalmente, para que o Espírito Santo convença os perdidos, no
tocante ao pecado, à justiça e ao juízo vindouro (Jo 16.7-11); orar, com desejo
sincero, pelas manifestações do Espírito, mediante os dons de curar, de
línguas, de milagres e de maravilhas (At 4.29-33; 10.38; 1Co 12.7-11).
3.3 A
natureza espiritual, intelectual e moral dos demônios
Eles
possuem uma natureza intelectual, até mesmo porque na etimologia da palavra
daimon o sentido é conhecimento, inteligência. Portanto, os demônios não são
coisas impensantes, mas conhecem a Jesus e até falam dele como “o filho do
Altíssimo” (Mc 5.6,7). Tiago escreveu que os demônios crêem e estremecem (Tg
2.19). Quanto à natureza moral dos demônios é inegável que eles se corromperam
indo após Lúcifer, praticando toda a sorte de perversão e depravação
espiritual. Por isso, eles são chamados “espíritos imundos” (Mt 10.1; Mc 1.27;
3.11; Lc 4.36; At 8.7, Ap 16.13). Eles usam as pessoas, possuindo suas mentes
ou influenciando-as por outros meios a fim de que elas se tornem “instrumentos
de iniqüidade” (Rm 6.13).
Na
rebelião promovida por Lúcifer, este arrastou consigo uma grande multidão de
seres angelicais (Mt 25.41; Ap 12.4). Depois, ele organizou sua própria corte
com os anjos que o seguiram, distinguindo-os em “principados, potestades e
dominadores das trevas e hostes espirituais da maldade” (Ef 6.12). Os anjos que
trocaram a sua habitação pela oferta do rebelde Lúcifer, foram banidos da
presença de Deus e seguiram a liderança de Lúcifer. E, assim, passaram a ser
identificados como “anjos caídos”.
3.4 Lugar
atual e destino final dos demônios
a)
Satanás na sua rebelião inicial contra Deus (Mt 4.10) sublevou uma terça parte
dos anjos (Ap 12.4). A maioria deles está solta sob o domínio e controle de
Satanás (Mt 12.24; ]25.41; Ef 2.2; Ap 12.7). Estes são os emissários altamente
organizados do diabo (Ef 6.11,12) que equivalem aos demônios referidos na
Bíblia;
b)
Outros desses estão algemados no poço do abismo (2 Pe 2.4; Jd 6), e serão
soltos na Grande Tribulação. “E o quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma
estrela que do céu caiu na terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo. E
abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço como a fumaça de uma grande
fornalha e, com a fumaça do poço, escureceu-se o sol e o ar” (Ap 9.1,2). Nesse
texto encontramos a estrela que cai do céu que é provavelmente um anjo que
executa o julgamento divino e o poço do abismo que é o lugar onde estão
aprisionados os demônios que não guardaram o seu principado e ali foram
encerrados até que Che o tempo de serem soltos (Ap 11.7; 17.8; 20.1,3; Lc 8.31;
2Pe 2.4; Jd 6). Do poço do abismo saem gafanhotos que representam um vultoso
número de demônios e também intensa atividade demoníaca na terra, perto do fim
da história.
c)
finalmente todos os demônios serão lançados juntamente com Satanás para dentro
do lago de fogo. “Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda:
Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus
anjos” (Mt 25.41).
Bibliografia
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 6ª ed. São Paulo,
Editora Cultura Cristã, 2000.
LINDSAY, Gordon. Satanás e o reino das trevas. Belo
Horizonte, Atos, 2002.
OROPEZA, B.J. – 99 perguntas sobre anjos, demônios e batalha
espiritual. 2ª ed. São Paulo, Mundo Cristão, 2001.
PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. 7
Ed., São Paulo, Editora Vida, 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário